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LÁ E CÁ
Nos EUA, contraste; em São Paulo, "bocas de aluguel"
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Não houve debate, em
São Paulo. José Serra
e Marta Suplicy, os únicos
com chance, se atacaram
aqui e ali, indiretamente, e
mal conseguiram ir além dos
bordões da propaganda.
Quando se viram frente a
frente, foi até pior: Marta o
qualificou de "ignorante",
Serra a tratou por arrogante
-o que talvez seja bastante
revelador, afinal, sobre os
dois: nos poucos momentos
em que se confrontaram, o
tom foi sempre esse, quase
de desprezo mútuo.
O programa da Globo foi
tomado pelos coadjuvantes.
Por três deles.
Paulo Maluf, a "boca de
aluguel" de Marta, gastou o
tempo que pôde em ataques
ao tucano -a quem culpou
pelos juros, por não fazer
um hospital para mulheres,
pela violência etc.
Paulinho e Ciro Moura,
"bocas de aluguel" de Serra,
questionaram Marta pelas
taxas de lixo e de luz, pelas
"escolas de latinha", pelas
enchentes na radial Leste,
pelo desemprego etc. Em
maior número, levaram o
debate, por Serra.
Em oposição, o debate
presidencial nos EUA entre
George W. Bush e John
Kerry, aparentemente mais
constrangido por regras que
o daqui, prestou serviço só
ao eleitor americano.
Para começar, todas as
perguntas foram feitas por
um jornalista, Jim Lehrer, da
PBS, não por marqueteiros.
O embate se concentrou em
política externa e não bailou
por todo lado, ao sabor dos
interesses publicitários.
Embora já alimentassem
ontem mesmo muita "crítica
teatral", formal, o que Bush e
Kerry fizeram foi mostrar
sobretudo seu contraste no
tema-chave da guerra.
Bush e Kerry têm, é claro,
suas "bocas de aluguel" para
a propaganda. Mas elas são
vetadas no debate, realizado
por organização apartidária.
Após 15 anos da eleição que
abriu aqui a teledemocracia,
o Brasil ainda tem muito o
que copiar da América.
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