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AMAPÁ
Sarney gasta o sapato para permanecer no Senado
Ex-presidente demonstra resistência ao enfrentar uma campanha difícil
Em dois meses, Sarney teve de palmilhar lugares que jamais visitara antes para superar sua adversária Cristina Almeida, do PSB
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ
O fabricante dos sapatos do
senador José Sarney (PMDB)
está perdendo um belo negócio: propagandear um caso em
que o seu produto, posto à duríssima prova no Amapá, deu
mostras de força e resistência.
Coberto de pó pelas andanças por terra, o par é o mesmo
de dois meses atrás, quando o
ex-presidente desembarcou
para enfrentar o terceiro pleito
no Estado pelo qual é senador
há 16 anos -embora seja do
Maranhão. Os sapatos estão como o dono: com ares joviais, a
despeito dos castigos do tempo.
Sarney teve de palmilhar lugares que jamais visitara. A responsável pelo seu esforço não
calça sempre o mesmo par, mas
pares diversos, que combinam
com vestidos indianos e turbantes no mesmo tom: a administradora de empresas Cristina Almeida (PSB), 40.
Ela não era nascida quando
Sarney, 76, se elegeu governador do Maranhão em 1965. Bisneta de escravos, Cristina milita no movimento negro. Como
superintendente do Incra no
Amapá até meados do ano, promoveu o reconhecimento legal
de uma comunidade de descendentes de quilombolas.
Na infância, as pernas eram
tortas e ela andava como um
macaquinho. Por isso ganhou o
apelido de Chico. Hoje as pernas perfeitas compõem um
conjunto que lembra Marina
Montini, musa de Di Cavalcanti. Cristina fala de perseguições
do senador à sua atuação no Incra. Sarney prega a "máxima
chinesa": "Comer pouco, dormir muito e não discutir com
mulher". Na verdade, seu sono
é curto: da 1h às 5h30 ou 6h. Lê
antes de adormecer e ao acordar. Para suportar caminhadas
como uma de 6 km há três dias,
não toma vitaminas. Remédio,
apenas para a pressão.
Se Sarney só tem usado
jeans, Cristina colore os ambientes com suas roupas. Ela
usa três cremes para o rosto,
tranças e um pequeno aplique.
É exímia no marabaixo, a dança
da qual Sarney, em campanha,
ensaiou movimentos. Cortou o
cabelo quando se tornou policial militar, antes de ser funcionária da Assembléia e secretária estadual de Indústria e Comércio. Se o Ibope estiver certo, o problema de Cristina é que
a saúde política de Sarney é tão
resistente como os sapatos.
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