São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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AMAPÁ

Sarney gasta o sapato para permanecer no Senado

Ex-presidente demonstra resistência ao enfrentar uma campanha difícil

Em dois meses, Sarney teve de palmilhar lugares que jamais visitara antes para superar sua adversária Cristina Almeida, do PSB


MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ

O fabricante dos sapatos do senador José Sarney (PMDB) está perdendo um belo negócio: propagandear um caso em que o seu produto, posto à duríssima prova no Amapá, deu mostras de força e resistência.
Coberto de pó pelas andanças por terra, o par é o mesmo de dois meses atrás, quando o ex-presidente desembarcou para enfrentar o terceiro pleito no Estado pelo qual é senador há 16 anos -embora seja do Maranhão. Os sapatos estão como o dono: com ares joviais, a despeito dos castigos do tempo.
Sarney teve de palmilhar lugares que jamais visitara. A responsável pelo seu esforço não calça sempre o mesmo par, mas pares diversos, que combinam com vestidos indianos e turbantes no mesmo tom: a administradora de empresas Cristina Almeida (PSB), 40.
Ela não era nascida quando Sarney, 76, se elegeu governador do Maranhão em 1965. Bisneta de escravos, Cristina milita no movimento negro. Como superintendente do Incra no Amapá até meados do ano, promoveu o reconhecimento legal de uma comunidade de descendentes de quilombolas.
Na infância, as pernas eram tortas e ela andava como um macaquinho. Por isso ganhou o apelido de Chico. Hoje as pernas perfeitas compõem um conjunto que lembra Marina Montini, musa de Di Cavalcanti. Cristina fala de perseguições do senador à sua atuação no Incra. Sarney prega a "máxima chinesa": "Comer pouco, dormir muito e não discutir com mulher". Na verdade, seu sono é curto: da 1h às 5h30 ou 6h. Lê antes de adormecer e ao acordar. Para suportar caminhadas como uma de 6 km há três dias, não toma vitaminas. Remédio, apenas para a pressão.
Se Sarney só tem usado jeans, Cristina colore os ambientes com suas roupas. Ela usa três cremes para o rosto, tranças e um pequeno aplique. É exímia no marabaixo, a dança da qual Sarney, em campanha, ensaiou movimentos. Cortou o cabelo quando se tornou policial militar, antes de ser funcionária da Assembléia e secretária estadual de Indústria e Comércio. Se o Ibope estiver certo, o problema de Cristina é que a saúde política de Sarney é tão resistente como os sapatos.


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