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Eleições 2006
Mercadante
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
É de um amigo que parte a
definição: "Ele tem o ego do tamanho suficiente para ser político". Aloizio Mercadante, 52,
percorreu com rapidez o trajeto das bases do PT à cúpula do
poder. No caminho, angariou
uma legião de inimigos políticos, mas soube construir amizades que passaram incólumes
por crises políticas, pensamentos econômicos distintos e
ideologias que não se bicam.
Se a vaidade do petista é um
consenso entre os que por ele
compartilham bons sentimentos e também os que o hostilizam, a generosidade seria a sua
maior virtude (aí, só segundo os
amigos).
Há quase um corolário "psíquico" dos que conhecem a alma do petista: "sim, ele é centralizador, tem um jeito arrogante, uma vaidade desconcertante, uma inteligência privilegiada, uma neurose com números, uma cobrança pelo perfeccionismo herdada da formação
militar do pai, a veemência irritante para defender as próprias
idéias, mas é generoso, solidário, engraçado nos poucos momentos em que se permite descontrair, um pai dedicado e babão, um homem que preza a família e os amigos".
Antes de disputar a eleição
para o governo de São Paulo,
Mercadante sustentava que sua
maior derrota política fora em
1994, quando disputou como
vice na chapa de Lula à Presidência. Passou boa parte do
tempo criticando o Plano Real.
Ao final, teve que admitir o êxito da fórmula econômica montada pelos tucanos.
Fez a mesma gritaria contra
o Plano Cruzado, em 1986. "Algumas críticas foram justas,
outras não", diz o economista
Luiz Gonzaga Beluzzo, ex-professor de Mercadante, que integrou o governo Sarney. Reivindicar e exigir, lembra Beluzzo,
eram verbos muito adotados
por Mercadante. "Ele parece
arrogante, mas está disposto a
ouvir. É veemente, muito qualificado, mas sabe que não vou
votar nele", diz o professor,que
optou por Serra.
Sonho de ser presidente
Ao longo da campanha para
governador, Mercadante nem
sequer cogitava que o pleito poderia ser decidido no primeiro
turno. Quem o conhece assegura: o petista não encarou a disputa em São Paulo como uma
missão para auxiliar a reeleição
de Lula. "Ele acha mesmo que é
sua vez, que vai ganhar. Não admite a possibilidade de não ir
para o segundo turno", conta
um aliado do candidato.
A derrota em São Paulo dificulta o retorno do petista para o
posto de líder do governo no
Senado. Dizem "as más línguas
petistas" que ele voltará obstinado por um ministério, num
eventual segundo mandato de
Lula. "É fato que ele sempre
quis ser ministro. Mas o sonho
mesmo é ser Presidente", alfineta um adversário petista.
Uma das mais leais amigas de
Mercadante, atualmente assessora dele no Senado e ex-professora do petista na universidade, a economista de origem
portuguesa Maria da Conceição Tavares contesta: "Ao contrário do que dizem, ele não é
uma pessoa ambiciosa pelo poder, tá bom nega! Diria que as
más línguas paulistas, que eu
conheço muito bem, têm a tendência a dizer que ele é. Ele
cumpre seu dever político".
O jornalista Ricardo Kotscho, que começou no PT junto
com Mercadante, assegura que
Lula nutre pelo senador uma
amizade especial. "Eles divergem em muitas coisas, em política e em economia. Mas Lula o
ouve muito e não deixa falarem
mal dele", diz o ex-secretário de
comunicação de Lula.
Se Mercadante foi lançado na
política por Lula e preparado
para ser o porta-voz econômico
do PT, hoje não é mais a figura
preponderante na economia
para o partido. Lula considerava que, para o ministério da Fazenda, precisava de alguém
com perfil político. "Político,
por concepção, quer agradar a
todos. Mercadante não. O que
dificulta sua vida na política",
diagnostica Kotscho.
Jeitão de poucos amigos
No Senado, Mercadante
cumpriu a missão partidária.
Segurou nas costas uma bancada totalmente inexpressiva do
PT contra uma maioria articulada e bastante experiente do
PSDB e PFL. Extremamente
centralizador, tentava estar em
todos os lugares e controlar todas as votações.
O malabarismo provocou alguns desastres políticos e vários ruídos com a oposição. Mas
conseguiu conduzir negociações relevantes com o PSDB,
PFL e PMDB em vários momentos. Ainda assim, não é
benquisto pelos colegas. Há, inclusive, um bordão entre os senadores quando um deles esquece de cumprimentar o outro: "Bom dia, Mercadante!",
dizem eles, colecionando sarcasmos sobre o jeitão difícil e
de poucos amigos do líder do
governo.
Enquanto exalta a fidelidade
a Lula, há vários petistas que o
consideram desleal na política.
Citam, como exemplo, o caso
do mensalão. Mercadante, assim como Lula, rifou os correligionários.
Não defendeu ninguém publicamente. "Nos bastidores,
ajudou para que não fossem
cassados. Mas não defendeu
ninguém", conta um petista
magoado. Ainda assim, buscou,
na prévia para o governo, o
apoio do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, envolvido no mensalão, mas absolvido da cassação.
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