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Eleições 2006
Quércia
ROGÉRIO PAGNAN
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Se confirmadas as pesquisas
de intenção de voto e as próprias expectativas, o peemedebista Orestes Quércia, 68, deve
perder a 11ª e última disputa
eleitoral dos seus 47 anos de vida pública, marcados por grandes vitórias e escândalos.
O "caipira de Pedregulho",
uma referência à sua cidade natal no interior de SP, deve se dedicar quase exclusivamente à
vida de empresário bem-sucedido, sua justificativa para a
fortuna de R$ 111,5 milhões.
Mesmo com planos de assumir o PMDB nacional, amigos
dizem que a prioridade de
Quércia será a venda de cafés finos, no Brasil e no exterior, paixão recente que minguava sua
vontade de participar das
atuais eleições.
Analisava disputar uma vaga
certa à Câmara, mas relutava
com a idéia de ter de permanecer parte da semana em Brasília (DF), longe da família e do
Café Octávio. O batismo do café
é homenagem à memória do
pai, assim com o nome dado a
dois de seus cinco filhos (Orestes, Cristiane, Andreia, Rodrigo
Octávio e Pedro Octávio).
Segundo o amigo e ex-assessor Douglas Aguilar, 71, Quércia está tão empolgado com a
implantação de uma rede de cafés, a exemplo da Starbucks, a
maior do mundo, que parece o
menino que aos nove anos vendia pedaços de melancia na estação de trem em Pedregulho.
A disputa ao Palácio dos Bandeirantes neste ano nasceu
após uma quizila com o tucano
José Serra, que recusou ceder a
vaga de vice para ele e a dois dos
seus afilhados. Durante a campanha, ele fez uma "aliança
branca" com o petista Aloizio
Mercadante -para alguns peemedebistas, mais um erro.
Outros dois erros seriam as
indicações do então secretário
de Segurança Pública, Luiz Antônio Fleury Filho, e, em seguida, o ex-ministro Barros Munhoz, para o governo de SP.
Quércia se culpa apenas por
Fleury. Nem os escândalos dos
supostos superfaturamentos
de obras e dos equipamentos
israelenses são contabilizados
pelo peemedebista pelo seu infortúnio nas urnas. Sobre as denúncias, que lhe permitiram
autonomear-se como o homem
mais investigado do país em
1994, ele afirma ter sido tudo
comprovado como mentiras.
O fato é que após deixar o governo paulista no final de 1991,
quando começaram a surgir os
escândalos, Quércia nunca
mais se elegeu, mesmo saindo
com 50% de ótimo e bom à sua
administração, contra 12% de
ruim e péssimo. Sua popularidade estava ligada à priorização
de obras "visíveis", como a
construção de estradas.
Em 1989, Quércia chegou a
ser cotado para candidato à
Presidência da República. Oficialmente, ele não quis deixar
seu mandato pelo meio.
Na época, a Presidência parecia um caminho natural. Desde
1963, Quércia havia disputado
seis eleições e vencido todas.
Vereador (1963) e prefeito de
Campinas (1968), deputado estadual (1966), senador (1976),
vice-governador (1982) e governador (1986). Foi o senador
mais votado com 4,6 milhões
de votos, contra 1,6 milhão de
votos do adversário.
Na disputa ao governo de SP,
era considerado um azarão
contra os favoritos Paulo Maluf
e Antônio Ermírio de Moraes,
mas acabou aproveitando-se de
sua aura de caipira e do congelamento de preços do Plano
Cruzado, implantado pelo partido pelas mãos de José Sarney.
Hoje, ele está prestes a conhecer sua quinta derrota em
eleições. Começou não se elegendo em 1959 como vereador,
perdeu para a Presidência em
1994, quatro anos depois para o
governo de São Paulo e, em
2002, para o Senado. Para amigos, é praticamente impossível
ele voltar a disputar outra eleição. "O tempo dele passou",
afirmou um deles.
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