São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Eleições 2006

Quércia

ROGÉRIO PAGNAN
FÁBIO VICTOR

DA REPORTAGEM LOCAL

Se confirmadas as pesquisas de intenção de voto e as próprias expectativas, o peemedebista Orestes Quércia, 68, deve perder a 11ª e última disputa eleitoral dos seus 47 anos de vida pública, marcados por grandes vitórias e escândalos.
O "caipira de Pedregulho", uma referência à sua cidade natal no interior de SP, deve se dedicar quase exclusivamente à vida de empresário bem-sucedido, sua justificativa para a fortuna de R$ 111,5 milhões.
Mesmo com planos de assumir o PMDB nacional, amigos dizem que a prioridade de Quércia será a venda de cafés finos, no Brasil e no exterior, paixão recente que minguava sua vontade de participar das atuais eleições.
Analisava disputar uma vaga certa à Câmara, mas relutava com a idéia de ter de permanecer parte da semana em Brasília (DF), longe da família e do Café Octávio. O batismo do café é homenagem à memória do pai, assim com o nome dado a dois de seus cinco filhos (Orestes, Cristiane, Andreia, Rodrigo Octávio e Pedro Octávio).
Segundo o amigo e ex-assessor Douglas Aguilar, 71, Quércia está tão empolgado com a implantação de uma rede de cafés, a exemplo da Starbucks, a maior do mundo, que parece o menino que aos nove anos vendia pedaços de melancia na estação de trem em Pedregulho.
A disputa ao Palácio dos Bandeirantes neste ano nasceu após uma quizila com o tucano José Serra, que recusou ceder a vaga de vice para ele e a dois dos seus afilhados. Durante a campanha, ele fez uma "aliança branca" com o petista Aloizio Mercadante -para alguns peemedebistas, mais um erro.
Outros dois erros seriam as indicações do então secretário de Segurança Pública, Luiz Antônio Fleury Filho, e, em seguida, o ex-ministro Barros Munhoz, para o governo de SP.
Quércia se culpa apenas por Fleury. Nem os escândalos dos supostos superfaturamentos de obras e dos equipamentos israelenses são contabilizados pelo peemedebista pelo seu infortúnio nas urnas. Sobre as denúncias, que lhe permitiram autonomear-se como o homem mais investigado do país em 1994, ele afirma ter sido tudo comprovado como mentiras.
O fato é que após deixar o governo paulista no final de 1991, quando começaram a surgir os escândalos, Quércia nunca mais se elegeu, mesmo saindo com 50% de ótimo e bom à sua administração, contra 12% de ruim e péssimo. Sua popularidade estava ligada à priorização de obras "visíveis", como a construção de estradas.
Em 1989, Quércia chegou a ser cotado para candidato à Presidência da República. Oficialmente, ele não quis deixar seu mandato pelo meio.
Na época, a Presidência parecia um caminho natural. Desde 1963, Quércia havia disputado seis eleições e vencido todas. Vereador (1963) e prefeito de Campinas (1968), deputado estadual (1966), senador (1976), vice-governador (1982) e governador (1986). Foi o senador mais votado com 4,6 milhões de votos, contra 1,6 milhão de votos do adversário.
Na disputa ao governo de SP, era considerado um azarão contra os favoritos Paulo Maluf e Antônio Ermírio de Moraes, mas acabou aproveitando-se de sua aura de caipira e do congelamento de preços do Plano Cruzado, implantado pelo partido pelas mãos de José Sarney.
Hoje, ele está prestes a conhecer sua quinta derrota em eleições. Começou não se elegendo em 1959 como vereador, perdeu para a Presidência em 1994, quatro anos depois para o governo de São Paulo e, em 2002, para o Senado. Para amigos, é praticamente impossível ele voltar a disputar outra eleição. "O tempo dele passou", afirmou um deles.


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