São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998 |
Próximo Texto | Índice ENTENDA O EVENTO Bienal é mais Brasil
CELSO FIORAVANTE da Reportagem Local Começa hoje mais uma Bienal, a 24ª, mas ela não é como as outras. Pela primeira vez em sua história, o evento parte de um conceito que, se não é exclusivamente brasileiro, também não é mais uma discussão arquitetada pelo Primeiro Mundo, na qual o país pega carona. Este ano, parte-se de um momento denso da cultura brasileira -a antropofagia- para discutir a formação da identidade plástica e cultural do país, tendo como pontos de partida o "Manifesto Antropófago" (1928), de Oswald de Andrade, e a pintura de Tarsila do Amaral. Mas eles não são nem o começo. O curador Paulo Herkenhoff e seu adjunto Adriano Pedrosa retrocederam até o século 16 e atravessaram cinco séculos para alinhavar a teoria que o Brasil construiu sua cultura digerindo culturas alheias e adequando-as à nossa própria tradição. Algo semelhante aos processos digestivos, em que um organismo assimila um elemento estranho, o transforma e aproveita dele o que interessa, sem perder suas próprias características. "Eu queria que a Bienal tivesse um ponto de partida traçado a partir da cultura brasileira, mas entendendo que ela a nossa cultura é filiada à cultura ocidental, mas com tensões, diferenças e singularidades", disse Paulo Herkenhoff. Em tempos de globalização, um conceito como esse pode ser lido em todos os sentidos, e os curadores se apropriaram dele de maneira um tanto quanto elástica, relacionando obras e artistas a partir de análises como a da cor, do empenho político e da relação com o outro, algo que possibilitou, por exemplo, relações entre Alfredo Volpi e Hélio Oiticica. Tal estratégia deve tornar a Bienal um balaio de gatos, mas também uma fina estampa. É ver para crer.
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