São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice RENÉ MAGRITTE Tela tem 'segunda verdade'
JOÃO BATISTA NATALI da Reportagem Local O belga René Magritte (1898-1967) foi antes de mais nada o surrealista que trombou de uma forma muito diferenciada com a idéia clássica de verdade na pintura. Desde a iconografia medieval, um Cristo era um Cristo, um pastor era um pastor e uma Madona era uma Madona. Um dos recursos de que ele lançou mão para criar a possibilidade estética de uma "segunda verdade" foi a inserção da linguagem manuscrita na tela. Exemplos: pintava um canivete e escrevia embaixo, como legenda, a palavra "pássaro" (1927), ou então um sapato de mulher com a palavra "lua" (1930). Nos dois casos, o canivete não era mais canivete, mas um pássaro, e o sapato não era mais sapato, mas a Lua. René Magritte operava, assim, um deslocamento radical no conteúdo da imagem. Outro recurso histriônico: a palavra como negação da evidência. A frase "Isto não é uma maçã" (1964) aparece numa tela que reproduz uma inegável maçã. A palavra manuscrita também é utilizada para jogar com a idéia de amorfismo. Sobre uma mancha pode aparecer a palavra "mulher". Cabe ao espectador/leitor imaginar o ícone virtual que estará ali presente. A psicanálise, referência constante em surrealistas como Breton e Élouard -dos quais Magritte se aproximou nos anos 20- trazia a razão de ser dessa "outra verdade" na pintura, ao ampliar os limites do que é verossímil e possível. Num sonho -e também nas artes- tudo é possível. Digamos que esses recursos tornam-se com o tempo previsíveis. A linguagem, reiterada, esgota-se rapidamente com o tempo. Magritte foi um pintor de poucas idéias e muitas repetições, o que não minimiza seu vanguardismo. Ele também foi, no entanto, de uma vanguarda paradoxalmente bem-comportada. Sua extensa produção -1.100 óleos, 700 guaches ou colagens- rompeu de forma tímida com o figurativismo acadêmico. Com Magritte, um personagem, uma paisagem ou um objeto são retratados na tela com a fidelidade quase própria à de uma fotografia. Visite o site oficial da XXIV Bienal de São Paulo Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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