São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice EVA HESSE Alemã busca o fim da rigidez
LISETTE LAGNADO especial para a Folha A obra da alemã, radicada nos EUA, Eva Hesse ainda não foi devidamente apresentada ao público brasileiro com uma grande exposição. A mostra oferecida pela Bienal procura sanar essa falta, embora a dificuldade de empréstimo das esculturas da artista, devido a sua fragilidade, tenha limitado sua participação. A artista está representada com três esculturas fundamentais -"Metronomic Irregularity 3" (1966), "Washer Table" e "Acession 2" (1967)- e algumas pinturas. O fato de ter estudado em Yale com Josef Albers, embora sem influência direta na sua produção, explica a vontade construtiva que perpassa uma linguagem marcada por um incontornável apelo orgânico. As peças da Bienal confirmam esta tensão entre o exercício do rigor e o da liberdade. Na realidade, toda a sua atitude foi esticar os limites entre o dentro e o fora, entre a subjetividade e o mundo físico. A aproximação que procurou estabelecer entre a vida e a arte é, até hoje, tema controvertido para aqueles que viram na abertura dos diários da artista uma perigosa tendência de estabelecer elos autobiográficos com a obra. Existe, a respeito da recepção crítica de Eva Hesse, uma análise que se atém estritamente aos aspectos formais e outra que trabalha com dados psicológicos de sua autora. Dentro de sua trajetória, nota-se uma obsessão pela repetição que pode ser simultaneamente lida com compulsão incontrolável e método de organizar e racionalizar o excesso. Essa ambiguidade é visível nos mais de 30 mil buracos da caixa "Acession 2". Enquanto seu interior exibe uma profusão de tubos que despontam desordenadamente, a grade externa se apresenta como um contêiner geometricamente perfurado. Afinidades com o universo formal de Eva Hesse podem ser encontradas sobretudo na linha orgânica que irrompe da parede. É o caso de "Hang-Up" (1966), talvez sua peça mais radical, que comenta ao mesmo tempo o vazio da pintura (início de carreira da artista) e a dissolução das fronteiras entre desenho, pintura e escultura. A Bienal estabelece uma aproximação histórica com obras de Lygia Clark e Mira Schendel. "Obra Mole" (1964) e "Droguinha" (1966), das duas artistas respectivamente, foram escolhidas por ostentar a sensualidade do informe contra a rigidez de uma estrutura. A conexão é pertinente porque as três artistas convergem para uma busca sincrônica: investigar um "sistema" aberto à noção do processo vivencial e avesso a uma racionalidade totalizadora.
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