São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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Divulgação
Detalhe de 'A Destruição do Pai' (1974), de Louise Bourgeois


Outras palavras

"Há uma mesa de jantar e pode-se ver todo tipo de coisas acontecendo. O pai está falando sem parar, contando à platéia cativa como ele é ótimo, sobre todas as coisas fantásticas que fez, todas as pessoas ruins que castigou naquele dia. Mas isso acontece sempre, dia após dia. Uma espécie de ressentimento vai se intensificando nos filhos. Chega o dia em que eles ficam com raiva. A tragédia está no ar. O pai repetiu seu refrão uma vez mais.
Os filhos o agarraram e o puseram sobre a mesa. E ele se tornou a comida. Eles o desmembraram, o fizeram em pedaços. E o comeram. Assim, ele foi liquidado. Como você pode ver, é um drama oral! O fator de irritação eram suas constantes ofensas verbais. Assim, ele foi liquidado, da mesma maneira como havia liquidado seus filhos.
A escultura representa ao mesmo tempo uma mesa e uma cama. Quando você entra no ambiente, vê a mesa, mas também, no quarto dos pais, no andar de cima, a cama. Essas duas coisas são importantes em nossa vida erótica: a mesa do jantar e a cama. A mesa onde seus pais a fizeram sofrer. E a cama onde você se deita com seu marido, onde seus filhos nasceram e onde você vai morrer. Essencialmente, têm mais ou menos o mesmo tamanho, são o mesmo objeto.
Eu a montei aqui em minha casa. É uma peça altamente assassina, um impulso que vem quando estamos debaixo de tensão demais e nos voltamos contra aqueles a quem mais amamos."


Louise Bourgeois, sobre sua obra "A Destruição do Pai" (1974), em "Louise Bourgeois - Destruction of the Father Reconstruction of the Father - Writings and Interviews 1923-1997" (The MIT Press, EUA)


Tradução Clara Allain

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