São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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MÍDIA

Cinema e rádio põem Copa de pé

Apesar das dificuldades técnicas, primeiros torneios tomam conta das transmissões radiofônicas e das grandes telas, levando aos ‘espetáculos’ de futebol o mundo da propaganda

Em 1929, um ano antes da pri­ meira Copa, Herbert Eugene Ives demonstrava pela primeira vez, nos EUA, como funcionaria a transmissão de imagens coloridas pela TV. Mas foram mesmo o rá­ dio e o cinema que divulgaram os primeiros Mundiais. As transmissões radiofônicas eram a tônica no começo dos anos 30. Carlos Gardel, sinônimo de tango, foi a estrela da mídia na final da Copa no Uruguai, apare­ cendo nas concentrações e can­ tando para as seleções argentina e uruguaia -morou nesse países. A estréia brasileira foi acompa­ nhada por uma multidão, que fi­ cou concentrada em frente ao jor­ nal ‘‘A Gazeta’’ em São Paulo es­ perando pelas ondas e notícias. Quatro anos mais tarde, a mídia seria explorada com tom político. Mussolini aproveitou o Mundial realizado em sua Itália para pro­ pagandear o fascismo. Fez ques­ tão de presenciar todos os jogos da seleção local. Na Copa francesa, em 38, o rá­ dio era bastante popular, mas as transmissões radiofônicas inter­ continentais eram complicadas. O som ficava comprometido. Isso não impediu grande mobilização no Brasil, por exemplo, com as narrações de Gagliano Neto. Os jogos eram exibidos dias de­ pois nos cinemas, que deixaram por um tempo as produções de Hollywood em segundo plano -os filmes das partidas demora­ vam, pois chegavam ó América apenas de avião. A imprensa escrita teve cober­ tura destacada em 38, até pela Co­ pa ser na França. O jornal ‘‘L’Au­ to’’, por exemplo, cobria com atenção os treinos do Brasil: ‘‘Os brasileiros são perfeitos artistas com a bola nos pés. Dribles não são segredo para eles. Um time formidável’’, destacou o jornal. A imprensa francesa apostava que a final seria Brasil e França. Quando a seleção brasileira che­ gou ó final, já era 1950. Lá se foram 12 anos. O rádio ainda era a gran­ de saída para os torcedores -a TV Tupi de Assis Chateaubraind, primeira emissora do país, es­ treou exatamente naquele ano. O Maracanã ganharia o nome do exdiretor do ‘‘Jornal dos Sports’’ Mário Filho. A imprensa nacional nunca esteve tão ao lado da seleção -aliás, políticos tam­ bém ficaram com os jogadores antes da trágica final de 50. Ouvindo o rádio como milhares de brasileiros, João Soares da Sil­ va, um militar, morreu de ataque do coração após o gol de Ghiggia. O trauma nem bem tinha sido superado, e a seleção voltou forte ó mídia na preparação para a Co­ pa de 54. O uniforme amarelo da seleção saiu de um concurso com mais de 300 participantes vencido pelo gaúcho Garcia Schlee -ele escolheu a cor inspirado no Brasil de Pelotas e, pela vitória, ganhou uma cadeira cativa no Maracanã. Entre os jogadores, ganha des­ taque a CocaCola. Além de água, os jogadores ganharam aval para tomar o famoso refrigerante pela sua ‘‘qualidade’’ e ‘‘higiene’’. A imprensa, meio sensaciona­ lista, destacou a ‘‘Batalha de Ber­ na’’, o jogo em que o Brasil perdeu da Hungria, mas não houve ima­ gem que justificasse tal título. Em 58, o Brasil foi meio a im­ prensa. Paulo Machado de Carva­ lho era um rei da mídia e formou a delegação nacional com apoio dos jornalistas Ary Silva, Flávio Iazzeti e Paulo Planet Buarque. Jogadores recebiam pelo cor­ reio telegramas de felicitações -após a vitória sobre a Áustria, Ulysses Guimarães enviou um. Garrincha, que adorava rádio, comprou um na Europa, mas, se­ gundo Mário Américo, teria ven­ dido a peça, pois ela só transmitia em sueco. Antes do Mundial, pes­ quisa entre jornalistas na Suécia apontou o Brasil como favorito. A imprensa já acertava mais.



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