São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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Colecionador de reveses, Maluf adota comportamento de nanico

JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA

Em setembro de 2000, bem-posto nas pesquisas, Paulo Maluf dava como favas contadas a passagem para o segundo turno. A disputa final pela cadeira de prefeito de São Paulo, contra Marta Suplicy, seria encarniçada. O tratamento mais cortês que recebia do PT era de "corrupto".
Halo de vitorioso, Maluf reagia com o timbre que lhe é característico: "Apanhar faz parte da vida. Ninguém bate em cachorro morto", replicava. "Só jogam pedras em árvores que têm frutos."
Neste outubro de 2004, enquadrado na moldura que esboçou quatro anos atrás, Maluf é visto como carta fora do baralho. Na estratégia de campanha dos adversários, figura como "cachorro morto", "árvore sem frutos".
O Ministério Público coleciona indícios de que Maluf guarda no exterior uma fortuna supostamente amealhada de forma ilícita. Procuradores federais farejaram extratos de bancos da ilha de Jersey e da Suíça. Mas nenhum adversário de Maluf se dispõe a atacá-lo na propaganda eleitoral.
Maluf chega às urnas do primeiro turno de 2004 como uma espécie de sub-Maluf. A julgar pelos índices das pesquisas, está prestes a amargar a oitava derrota em pleitos majoritários.
Em 2000, Maluf dispensava à petista Marta Suplicy um tratamento acerbo. "Tem candidata que defende o casamento de homem com homem, mas isso só dá lobisomem", alfinetava. "De sexo ela entende. De administração, não", espicaçava.
Em 2004, Maluf vem ostentando comportamento típico de candidato nanico. Em troca de proteção, arrendou o verbo ao PT. Poupa Marta e enaltece o presidente Lula: "Ele amadureceu. Realiza um governo honesto. É um modelo". Simultaneamente, Maluf esmera-se nos ataques ao candidato José Serra (PSDB), virtual adversário da petista Marta no segundo turno do pleito municipal.
Em 37 anos de estrada pública, iniciados em 1967 com a nomeação para a presidência da Caixa Econômica Federal, Maluf exibiu uma capacidade de colecionar reveses eleitorais sem permitir que lhe perturbassem a alma. Sua carreira é pontilhada por um moto-contínuo de infortúnios políticos e ressurreições.
A biografia de Maluf é monumento à persistência. Onde seus adversários enxergam ilicitudes, Maluf não vê senão "pecadinhos veniais". Acha que , submetido ao julgamento de Deus, amargará "15 minutos no purgatório". Depois, vai para o "céu".
No julgamento terreno, antecipado pelos índices das sondagens eleitorais, o eleitor malufista, em outros tempos fiel, parece abandonar o candidato.


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