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CRIANÇAS
Convenções não eliminam abusos
da Reportagem Local
O universo das crianças testemunha um dos maiores paradoxos
dos direitos humanos. É uma das
áreas mais regulamentadas e ao
mesmo tempo apresenta alguns
dos piores indicadores.
O Brasil é uma espécie de símbolo internacional desse paradoxo.
Incorporou na Constituição de
1988 os princípios sobre a infância
que seriam internacionalizados só
um ano mais tarde, com a aprovação da Convenção sobre Direitos
da Criança pelas Nações Unidas.
Em 1990, o Brasil também sancionou o polêmico -e avançado- Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que inspirou
leis nessa área em 16 países latino-americanos.
Apesar disso, os brasileiros apresentam índices de mortalidade infantil comparáveis aos de países
africanos (de cada mil nascidos, 52
morrem antes de completar 5 anos
de idade). Em 1996, havia 3,8 milhões de crianças entre 5 e 14 anos
no mercado de trabalho, segundo
o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Somos vistos no plano internacional como o país do Estatuto e
como o país do extermínio de
crianças", define Antonio Carlos
Gomes da Costa, um dos mentores
do ECA e consultor de boa parte do
que se faz nessa área no Brasil.
Mas a situação não é muito diferente no conjunto dos países do
mundo. Já em 1924, quando a idéia
de direitos humanos ainda era incipiente, a Liga das Nações aprovou em Genebra a Declaração dos
Direitos das Crianças.
A Declaração Universal também
tratou do tema em 1948. Em 1959, a
Assembléia das Nações Unidas
aprovou nova declaração específica para crianças -fixando, por
exemplo, "o direito de crescer e desenvolver-se com saúde".
É significativo que, 40 anos depois desta declaração, o Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a
Infância) tenha escolhido como tema de seu relatório anual (1998) a
nutrição. Alguns números:
- 12 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem por ano em
países em desenvolvimento;
- 55% das mortes de crianças se
deve à desnutrição;
- 100 milhões de crianças têm o
sistema imunológico debilitado
por desnutrição;
- 17% de todos os bebês do planeta nascem com menos de 2,5 kg.
Em 1979 ocorreu outro marco: o
Ano Internacional da Criança. Foi
quando se decidiu começar a elaborar a convenção -um tipo de
documento internacional que, depois de aprovado tem mais força
do que as declarações.
Essa convenção tem quatro princípios gerais: a não discriminação
(visando a igualdade de oportunidades); o interesse da criança (que
deve nortear as políticas públicas);
o direito à vida, à sobrevivência e
ao desenvolvimento (o que envolve de moradia a educação); e o respeito à opinião da criança (conceito que define a criança como um
ser diferente do adulto, e não Como um "adulto menor").
O fato é que o desrespeito a esses
princípios tem correspondência
direta com a pobreza do país. E isso não se muda só com convenções.
(FERNANDO ROSSETTI)
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