São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abismo social é a maior violação

MARIANA SGARIONI
de Paris

Problemas ambientais, disfunção da economia mundial e pobreza. Esses são os atuais desafios das entidades ligadas aos direitos humanos, pois eles não foram levados em conta em 1948 no texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A afirmação é de Stéphane Hessel, 81, "ambassateur de France", que participou da criação das Nações Unidas e da redação do texto original da declaração universal.
Hessel foi o representante da França na comissão da ONU em Genebra (Suíça) entre 1977 e 1981 e na Conferência Mundial de Viena (Áustria), em 1993, onde foi reafirmada a universalidade da declaração e estabelecido o conceito de direito ao desenvolvimento.
Com uma biografia marcada pela luta contra o autoritarismo, Hessel foi personagem de episódios importantes deste século (o cineasta François Truffaut se inspirou na história de sua família para filmar "Jules et Jim"). Condenado à morte pela Gestapo, a polícia secreta nazista, foi deportado para Londres, em 1944, onde trabalhou com o general Charles de Gaulle.
"As violações de direitos humanos atualmente são outras. Por exemplo, a enorme diferença mundial entre a pobreza e a riqueza e o poder arbitrário que não respeita a legislação podem ser vistos em países ditos democráticos", disse Hessel, em entrevista à Folha.
Para ele, a principal questão que deve ser posta aos países é sobre a democracia. "A democracia e os direitos humanos não estão definitivamente garantidos em nenhum país, pois os governos sempre caem na tentação do abuso do poder. Não se pode falar em democracia num país que não respeita os direitos humanos."
Sobre a ONU, Hessel afirma que seu grande mérito foi o de não deixar que os inúmeros tratados e convenções ficassem só no papel. Apesar de se considerar um defensor incondicional das Nações Unidas, Hessel critica a posição dos países membros, que não destinariam verbas suficientes ao órgão. "Quando se trata de direitos humanos, os Estados membros ainda são muito reticentes o que é compreensível, pois os direitos humanos são sempre uma crítica aos governos."
Segundo ele, a rejeição dos governos aos direitos humanos diminuiu após o tratado de Viena, de 1993. Muitos países, principalmente da América Latina, questionavam a validade da declaração universal.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.