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Abismo social é a maior violação
MARIANA SGARIONI
de Paris
Problemas ambientais, disfunção da economia
mundial e pobreza. Esses são os atuais desafios das entidades ligadas aos direitos humanos, pois eles não foram levados em conta em 1948 no texto da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. A afirmação é de
Stéphane Hessel, 81, "ambassateur de France", que
participou da criação das Nações Unidas e da redação
do texto original da declaração universal.
Hessel foi o representante da França na comissão da
ONU em Genebra (Suíça) entre 1977 e 1981 e na Conferência Mundial de Viena (Áustria), em 1993, onde foi
reafirmada a universalidade da declaração e estabelecido o conceito de direito ao desenvolvimento.
Com uma biografia marcada pela luta contra o autoritarismo, Hessel foi personagem de episódios importantes deste século (o cineasta François Truffaut se
inspirou na história de sua família para filmar "Jules et
Jim"). Condenado à morte pela Gestapo, a polícia secreta nazista, foi deportado para Londres, em 1944,
onde trabalhou com o general Charles de Gaulle.
"As violações de direitos humanos atualmente são
outras. Por exemplo, a enorme diferença mundial entre a pobreza e a riqueza e o poder arbitrário que não
respeita a legislação podem ser vistos em países ditos
democráticos", disse Hessel, em entrevista à Folha.
Para ele, a principal questão que deve ser posta aos
países é sobre a democracia. "A democracia e os direitos humanos não estão definitivamente garantidos em
nenhum país, pois os governos sempre caem na tentação do abuso do poder. Não se pode falar em democracia num país que não respeita os direitos humanos."
Sobre a ONU, Hessel afirma que seu grande mérito
foi o de não deixar que os inúmeros tratados e convenções ficassem só no papel. Apesar de se considerar um
defensor incondicional das Nações Unidas, Hessel critica a posição dos países membros, que não destinariam verbas suficientes ao órgão. "Quando se trata de
direitos humanos, os Estados membros ainda são
muito reticentes o que é compreensível, pois os direitos humanos são sempre uma crítica aos governos."
Segundo ele, a rejeição dos governos aos direitos humanos diminuiu após o tratado de Viena, de 1993.
Muitos países, principalmente da América Latina,
questionavam a validade da declaração universal.
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