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O conceito
É possível viver junto?
Lalo de Almeida/Folha Imagem
![](../images/es0410200601.jpg) |
Obra do artista chileno Mario Navarro |
Bienal elimina representações nacionais e, baseada em Barthes e Oiticica, discute (im)possibilidades de convivência
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um alambrado logo após a
entrada principal da 27ª Bienal
de São Paulo guarda centenas
de armas brancas, como facas,
apreendidas durante o regime
do apartheid, na África do Sul.
Em volta dessa cerca, descendentes de escravos brasileiros
vestidos como policiais vigiam
o amontoado de armas.
"Security/Segurança", da artista sul-africana Jane Alexander, primeira obra da mostra
que será aberta ao público no
próximo sábado, representa o
manifesto da curadora Lisette
Lagnado, que criou uma Bienal
com o tema "Como Viver Junto", mas dispõe como entrada
de sua exposição um trabalho
que aborda a segregação, a violência e o racismo. Afinal, isso é
viver junto?
"No começo, todo mundo
gostou muito do título, pois
acho que as pessoas precisam
de uma utopia. Mas à medida
que eu ia escolhendo as obras e
conversando com os artistas,
encontrei muitos que não acreditam no como-viver-junto",
diz Lagnado.
Com 118 artistas, a montagem da mostra seguiu dois critérios: de um lado "quem acredita no viver-junto", ou seja,
numa sociedade mais justa e,
de outro, "quem está desencantado" com o andar do mundo.
A 27ª edição da Bienal de São
Paulo está marcada por uma série de inovações, que tiveram
início na escolha do curador:
três pessoas foram selecionadas para elaborar um projeto
para a mostra, submetido a
uma comissão independente.
Lagnado propôs em seu pré-projeto um time de co-curadores, composto pelos brasileiros
Adriano Pedrosa e Cristina
Freire, a espanhola Rosa Martinez, o colombiano Jose Roca e
o alemão Jochen Volz.
Organizadora dos arquivos
de Oiticica, Lagnado e seu time
criaram a Bienal a partir de dois
conceitos do artista: "projetos
construtivos", isto é, como as
pessoas constroem seu espaço
social; e "programas para a vida", ou seja, como se colocam
em prática relações comunitárias. Já o título da mostra, "Como Viver Junto", foi inspirado
na publicação dos cursos que o
filósofo Roland Barthes ministrou no Collège de France, em
1976 e 1977.
Entre as novidades desta edição, a curadora acabou com as
representações nacionais, o
que já havia sido ensaiado em
edições anteriores, mas que
agora encerra de vez o modelo
de feiras mundiais do século 19,
tomado emprestado da Bienal
de Veneza.
A Bienal ainda foi distendida
no tempo. Começando em janeiro com um dos seis seminários que discutem os conteúdos
da mostra, trouxe ao Brasil dez
artistas estrangeiros que passaram por um período de residência artística de, em média
dois meses, e terá ainda uma
mostra paralela com 39 filmes,
que tem início hoje.
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