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A seleção
Curadores da mostra também "viveram juntos"
Trabalho coletivo é resposta ao centralismo da última Bienal
DA REPORTAGEM LOCAL
Com uma curadoria dividida
por cinco pessoas, a Bienal "Como Viver Junto" foi, em sua
criação, uma experiência ligada
ao próprio tema da mostra. "O
trabalho curatorial foi, como
em todo grupo, um exercício de
convivência. Barthes indicava
que todo grupo é, de certa forma, uma versão em escala reduzida da sociedade e, nesse
sentido, reproduz as tensões,
alianças, tomadas de posição e
dinâmicas de força que ocorrem em maior escala", afirma
um dos co-curadores, o colombiano Jose Roca.
Coletividade
A proposta de uma curadoria
coletiva já estava na carta convite do atual presidente da
Fundação Bienal, Manuel
Francisco Pires da Costa, aos
escolhidos para elaborar um
pré-projeto de bienal, como
ocorre com a Documenta de
Kassel, na Alemanha. Certamente, a idéia de trabalho em
grupo surgiu após o fracasso da
Bienal passada, organizada
apenas pelo alemão Alfons
Hug, que foi considerada uma
das piores da história.
Em seu pré-projeto, Lisette
Lagnado indicava os brasileiros
Adriano Pedrosa, que já havia
participado da 24ª Bienal de
São Paulo, em 1998, como adjunto de Paulo Herkenhoff, e é
dos curadores nacionais com
maior circulação internacional,
e Cristina Freire, professora e
pesquisadora do Museu de Arte
Contemporânea da USP, especialista em arte conceitual.
"Para mim, que venho de
uma formação acadêmica e de
uma prática museológica, a
Bienal foi um exercício de pensar além de certos princípios
estabelecidos e também uma
oportunidade concreta para
realizar um trabalho de pesquisa de campo inigualável", afirma Freire.
De estrangeiros, Lagnado nomeou Roca, diretor de exposições temporárias da Biblioteca
Luis Angel Arango, em Bogotá,
na Colômbia, e Rosa Martinez,
a mais estelar do grupo, que já
foi responsável por organizar
bienais na Rússia, Espanha, Estados Unidos, Irlanda, Coréia,
Japão, e ter tido o mérito de ser
a primeira curadora mulher,
com Maria del Corral, a cuidar
da Bienal de Veneza, na Itália,
no ano passado. Atualmente,
Martinez é diretora do Museu
de Arte Moderna de Istambul.
Um terceiro estrangeiro ainda foi apontado, o alemão Jochen Volz, ex-diretor do Porticus, espaço de arte contemporânea em Frankfurt, na Alemanha, e atualmente curador do
Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Minas Gerais,
do colecionador Bernado Paes.
Volz foi o único curador a ser
responsável por um segmento
específico, o bloco dedicado ao
belga Marcel Broodthaers.
As curadorias coletivas têm
sido comuns em bienais e grandes mostras. Foi assim na última Bienal de Veneza e na Documenta de Kassel, mas, em
ambas, cada curador escolhia
os artistas, que foram apresentados em grupos isolados, o que
não ocorreu em São Paulo.
Como uma "banca"
Aqui, todas as decisões foram
coletivas, ou seja, cada artista
exposto na mostra foi aprovado
por todos os curadores, o que
significa que nem sempre foi
fácil viver junto. "Em certos
momentos me senti numa banca, tendo que defender o Acre, a
quinzena de filmes, mas todos
os ajustes que foram feitos, foram para melhor. É difícil viver
junto, fazer curadoria junto,
acatar propostas estéticas que
você talvez não escolheria, mas,
com certeza, é pior trabalhar
sozinho", diz Lagnado.
Esse modelo, entretanto, não
está incorporado à Fundação
Bienal e o processo para a escolha do próximo curador está indefinido. Cabe ao presidente da
instituição a indicação do curador, e Pires da Costa, que já organizou duas mostras, não deve
permanecer, pois não é prática
na Fundação que o presidente
tenha mais de dois mandatos.
Com isso, "Como Viver Junto"
pode representar apenas o momento mais democrático na
história da Fundação e não
uma prática constante.
(FCY)
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