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PERGUNTAS E RESPOSTAS
A Bienal é mesmo um evento de prestígio internacional? A arte contemporânea virou um vale-tudo? Tire suas dúvidas
1 - Qual a real importância da
Bienal de São Paulo?
A Bienal de São Paulo só é menos tradicional do que a de Veneza. As bienais têm perdido algo de
seu prestígio para grandes feiras,
como a de Basel, e eventos como a
Documenta de Kassel. Mas a
mostra brasileira é uma das mais
importantes do mundo. Para Joël
Girard, diretor de Relações Internacionais e Regionais do Centro
Pompidou (Paris), "a Bienal de
São Paulo é o evento das artes visuais mais aguardado da América
Latina e mesmo das Américas".
Roger Buergel, curador da 12ª
Documenta de Kassel, que irá se
realizar em 2007, diz que a "A Bienal de São Paulo é mais antiga
que a Documenta e ocorre num
edifício generoso, de se perder a
respiração. Admiravelmente, a
curadora atual acabou com o ultrapassado modelo de representações nacionais que ainda domina Veneza."
2 - Grandes exposições, como
a Bienal, não estão se transformando em "parques de diversões"?
O modelo de grandes exposições que recebem público numeroso e "leigo" não consegue escapar desse efeito. Há artistas que
até produzem obras para se aproveitar desse contexto. Na opinião
de Rosa Martinez, co-curadora
da Bienal, "é bem verdade que as
bienais participam da espetacularização da cultura, cujo maior
exemplo é o Guggenheim de Bilbao, mas temos a responsabilidade de resistir a esse processo e
criar novas formas de relação do
público com arte."
3 - A arte brasileira é respeitada
no circuito internacional?
A arte contemporânea brasileira já conquistou um espaço
considerável no circuito mundial.
Artistas como Hélio Oiticica,
Lygia Clark, Adriana Varejão, Ernesto Neto, Antonio Dias, entre
tantos outros, expõem regularmente no exterior e têm trabalhos
nas principais coleções. Na opinião de Samuel Keller, diretor das
feiras Art Basel and Art Basel
Miami Beach, o Brasil é o país que
tradicionalmente tem a maior
produção artística na América
Latina, embora por muito tempo
ela não tenha obtido reconhecimento internacional. "Vejo que
isso mudou muito nos últimos
dez anos, graças a ações individuais, como as de galeristas como
Marcantonio Vilaça e Luisa Strina, que viajam muito para mostrar trabalhos. Há também um
grande número de curadores, como Adriano Pedrosa, Ivo Mesquita e Paulo Herkenhoff, que
tem trabalhado muito."
4 - Hoje em dia tudo pode ser
arte? Quem decide se algo é arte
ou não?
As vanguardas modernas ampliaram o campo daquilo que anteriormente era aceito como arte.
Temas e objetos menos nobres e
novas formas de expressão surgiram e ganharam legitimidade no
meio da arte. Há um sistema formado por instituições, críticos,
curadores, colecionadores, scholars etc, que, com base numa série
de critérios, legitima ou não o que
se deve considerar como arte.
5 - Qual o papel de um curador?
O curador é o responsável pela
seleção de obras e pelo conceito
das exposições. De acordo com
Rosa Martinez. co-curadora da
Bienal, "uma das funções do curador é ser como um editor, alguém que, com critério estético e
político, sabe eleger as mensagens que são mais significativas
para interpretar o mundo onde
vivemos". Seu papel seria "colocar um filtro" no caos informativo em que vivemos.
Obviamente que a situação estratégica ocupada por curadores
pode dar margem ações duvidosas e "armações" no mercado de
arte. "No mundo da arte existe
um tipo de máfia com uma rede
de conexões que não se refere ao
conteúdo mas às formas de permanecer dentro do sistema já que
estas posições são extremamente
frágeis. Certos curadores, na minha experiência, tentam capitalizar sobre aquilo que os artistas estão fazendo. Eles se apropriam
das coisas e fazem a exposição como se o trabalho fosse seu", diz
Roger Buergel, curador da 12ª
Documenta de Kassel.
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