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Política dá o tom à produção nacional
Dos 118 artistas, quase 20% são brasileiros
Marepe, Marcelo Cidade e Mauro Restiffe são alguns dos destaques
da mostra
DA REPORTAGEM LOCAL
Populismo e violência são as
primeiras imagens que os artistas brasileiros projetam sobre o
país, logo na entrada da 27ª Bienal. "Empossamento", série de
fotografias de Mauro Restiffe,
apresenta a transformação de
Brasília, em 1º de janeiro de
2003, dia da posse do presidente Lula. Nessa série, o artista
antevia que a figura carismática
do presidente poderia manter
sua popularidade com marcas
de demagogia política.
Logo em seguida, Marepe,
em uma de suas instalações,
apresenta bandejas com biscoitos em forma de armas, ônibus,
telefones celulares. A obra foi
criada a partir das memórias familiares de infância do artista.
No Brasil, contudo, as "madeleines" têm gosto de violência.
Marcelo Cidade, um dos artistas mais jovens da mostra,
instalou na Bienal um bloqueador de celular, o mesmo aparelho que não funciona nas penitenciárias do país, de onde motins e chantagens têm sido feitas a cidadãos comuns.
Questões políticas locais norteiam a seleção brasileira? Não
necessariamente. Há obras menos literais, como o filme "Andarilho", de Cao Guimarães,
que abre o ciclo de cinema da
mostra, e expõe personagens
marginalizados, mas com enorme carga poética. Ou então, a
loja de costumes, de Laura Lima, na qual os visitantes poderão experimentar sua coleção
mais recente.
Nem só a política une a produção nacional na mostra, mas
que ela é veemente, isso não se
pode negar. Dos 118 artistas
desta Bienal, 22 são brasileiros,
quase 20% do total.
De fato, a política ainda é
uma boa chave para a compreensão de grande parte dos
trabalhos nacionais. As pinturas do acreano Hélio Melo, por
exemplo, não podem ser entendidas sem se levar em conta o
cotidiano dos seringueiros
abordado em seus trabalhos. O
mesmo ocorre com as fotografias de índios transformados
em números, retratados por
Cláudia Andujar.
O mais político dos artistas
convidados, aliás, Cildo Meireles, recusou-se a participar
quando o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira foi reeleito
membro do conselho da instituição, em junho. A repercussão de sua atitude foi tamanha,
que Cid Ferreira acabou sendo
retirado do Conselho, mas o artista não voltou à Bienal.
A política também está presente em ações positivas, no eixo "Programas para a Vida", como as do Jamac (Jardim Miriam Arte Clube), criado pela
artista Mônica Nador, na periferia da cidade, que reúne a população local para atividades
artísticas. "Durante a Bienal,
vamos até ter um seminário sobre arte contemporânea, proposto por um antigo militante
petista, que vê hoje mais possibilidade de transformação na
arte do que na política partidária", conta Nador. Duas vezes
por semana, quintas e domingos, ônibus levarão os visitantes da Bienal para conhecerem
o Jamac.
(FCY)
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