|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
fazendo gato e sapato
Já que a onda 'sustentável' entrou na moda, o setor de calçados começa a usar sapatos velhos e sobras industriais para fazer novos pares e reduzir sua produção de lixo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Olhar por onde se anda é
importante, mas, num mundo que clama por sustentabilidade, é preciso se preocupar ainda com o que se pisa.
Além de bonitos e confortáveis, os calçados ecologicamente corretos devem provocar o menor impacto ambiental possível, de sua concepção até a hora do descarte.
Em alguns países, essa
preocupação está tão avançada que o processo de reciclagem de calçados envolve
até os consumidores.
Em 1990, a americana Nike lançou o Nike Reuse a
Shoe, programa que recolhe
tênis usados para transformá-los em novos calçados ou
até mesmo no emborrachamento de quadras esportivas
e parquinhos para crianças.
Os postos, espalhados em
sete países, recolhem qualquer marca, desde que seja
um calçado esportivo. No site
(www.nikereuseashoe),
um contador já registrava a
marca de mais de 25 milhões
de tênis recebidos.
No Brasil, não há uma programa para isso, a reciclagem ainda é muito informal.
Quando um sapato fica velho
as pessoas doam e quando é
descartado vai para aterros.
Se por um lado a destinação do calçado descartado
ainda é o lixão, por outro, algumas empresas já desenvolvem programas de reuso
de resíduos da produção na
confecção de novos pares.
Em Três Coroas (RS), cidade que tem como base da
economia a indústria calçadista, 170 toneladas das 250
vão para reciclagem.
A iniciativa ecoou e levou
à criação do Ecoshoe, programa da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas
de Componentes para Couro,
Calçados e Artefatos), que visa aumentar o uso da reciclagem no setor.
Empresas da cidade já desenvolveram duas coleções
de sapatos femininos feitos
com materiais recicláveis.
Retalhos de madeira, casca de coco, chifres e ossos de
animais foram algumas das
matérias-primas usadas nos
sapatos assinados pelo estilista Walter Rodrigues.
"Montamos um análise do
ciclo de vida de um sapato
padrão. Avaliamos o impacto
das etapas da produção no
ambiente. Substituímos alguns alguns componentes e
fomos observando se diminuía esse impacto", afirma o
professor da PUC-RS Marcus
Seferin, um dos coordenadores do projeto.
O programa, porém, não
cobre todas as fases de um
calçado sustentável. O processo de reciclar o sapato
usado ainda não é feito.
Algumas grandes empresas nacionais, como a Alpargatas, já estudam maneiras
para solucionar o impasse.
"Estamos trabalhando para desenvolver uma logística
de coleta de sandálias usadas", afirma Carla Schmitzberger, Diretora de Negócios
Sandálias da Alpargatas.
Na produção, porém, cerca de 40% do material utilizado provém do reaproveitamento das sobras da fabricação das sandálias.
Outra gigante do setor, a
Grendene, que produz as Melissas, lançou em 2008 uma
sapatilha feita com até 30%
de PVC reciclado.
Na Inglaterra, a marca Terra Plana afirma ser a empresa
mais autossustentável do
mundo. Designers da grife reciclam as tradicionais colchas coloridas feitas
no Paquistão e em Bangladesh para criar sapatilhas,
sandálias e scarpins.
"O ideal mesmo seria se todo mundo parasse de usar
sapatos. Nós só estamos tentando fazer o melhor que a
gente pode", diz Galahad JD
Clark, diretor da Terra Plana.
(MANUELA MINNS)
Texto Anterior: É reciclado mas nem por isso é tosco Próximo Texto: Está limpo Índice
|