São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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fazendo gato e sapato

Já que a onda 'sustentável' entrou na moda, o setor de calçados começa a usar sapatos velhos e sobras industriais para fazer novos pares e reduzir sua produção de lixo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Olhar por onde se anda é importante, mas, num mundo que clama por sustentabilidade, é preciso se preocupar ainda com o que se pisa.
Além de bonitos e confortáveis, os calçados ecologicamente corretos devem provocar o menor impacto ambiental possível, de sua concepção até a hora do descarte.
Em alguns países, essa preocupação está tão avançada que o processo de reciclagem de calçados envolve até os consumidores.
Em 1990, a americana Nike lançou o Nike Reuse a Shoe, programa que recolhe tênis usados para transformá-los em novos calçados ou até mesmo no emborrachamento de quadras esportivas e parquinhos para crianças.
Os postos, espalhados em sete países, recolhem qualquer marca, desde que seja um calçado esportivo. No site (www.nikereuseashoe), um contador já registrava a marca de mais de 25 milhões de tênis recebidos.
No Brasil, não há uma programa para isso, a reciclagem ainda é muito informal. Quando um sapato fica velho as pessoas doam e quando é descartado vai para aterros.
Se por um lado a destinação do calçado descartado ainda é o lixão, por outro, algumas empresas já desenvolvem programas de reuso de resíduos da produção na confecção de novos pares.
Em Três Coroas (RS), cidade que tem como base da economia a indústria calçadista, 170 toneladas das 250 vão para reciclagem.
A iniciativa ecoou e levou à criação do Ecoshoe, programa da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), que visa aumentar o uso da reciclagem no setor.
Empresas da cidade já desenvolveram duas coleções de sapatos femininos feitos com materiais recicláveis.
Retalhos de madeira, casca de coco, chifres e ossos de animais foram algumas das matérias-primas usadas nos sapatos assinados pelo estilista Walter Rodrigues.
"Montamos um análise do ciclo de vida de um sapato padrão. Avaliamos o impacto das etapas da produção no ambiente. Substituímos alguns alguns componentes e fomos observando se diminuía esse impacto", afirma o professor da PUC-RS Marcus Seferin, um dos coordenadores do projeto.
O programa, porém, não cobre todas as fases de um calçado sustentável. O processo de reciclar o sapato usado ainda não é feito.
Algumas grandes empresas nacionais, como a Alpargatas, já estudam maneiras para solucionar o impasse.
"Estamos trabalhando para desenvolver uma logística de coleta de sandálias usadas", afirma Carla Schmitzberger, Diretora de Negócios Sandálias da Alpargatas.
Na produção, porém, cerca de 40% do material utilizado provém do reaproveitamento das sobras da fabricação das sandálias.
Outra gigante do setor, a Grendene, que produz as Melissas, lançou em 2008 uma sapatilha feita com até 30% de PVC reciclado.
Na Inglaterra, a marca Terra Plana afirma ser a empresa mais autossustentável do mundo. Designers da grife reciclam as tradicionais colchas coloridas feitas no Paquistão e em Bangladesh para criar sapatilhas, sandálias e scarpins.
"O ideal mesmo seria se todo mundo parasse de usar sapatos. Nós só estamos tentando fazer o melhor que a gente pode", diz Galahad JD Clark, diretor da Terra Plana.
(MANUELA MINNS)


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