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Está limpoEscolhida como a 'capital verde' da União Europeia, Estocolmo recicla e transforma seu lixo em energia; a cidade controlou a questão ambiental com dinheiro alto, educação e multas
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO
Não é difícil para quem
passeia pelo centro de Estocolmo, escolhida pela União
Europeia como sua "capital
verde" em 2010, se deparar
com uma cena inesperada:
um ciclista recosta sua bicicleta às margens do lago Mälaren, monta sua vara de pescar, e volta para casa com um
peixe numa sacola de feira.
Pouca gente imagina, porém, que por trás de um episódio como esse, na verdade,
há milhões de coroas suecas
investidas nas tecnologias
mais modernas de tratamento de água e na construção de
760 quilômetros de ciclovias
na área metropolitana.
Se, por um lado, é verdade
que o idílio bucólico vivido
em plena área urbana é fruto
da consciência ambiental
dos suecos, por outro, há um
bocado de dinheiro investido
para tal. Mas o preço de ter
ruas impecavelmente limpas
na Gamla Stam, a cidade velha de Estocolmo, é bem menor do que poderia ser.
Como o país conseguiu reduzir a sua produção de lixo
drasticamente, uma frota de
apenas 75 caminhões recolhe todo o resíduo do município de Estocolmo, onde vivem 800 mil habitantes.
Mais de 25% do lixo é reciclado, 73,5% dele é queimado para produção de energia
usada em aquecimento doméstico e o 1,5% é tratado
biologicamente. Em São Paulo, apenas 1% do lixo produzido na cidade é reciclado.
"O que vai parar nos aterros é só a cinza que resta da
incineração", diz Nils Lindkvist, técnico estrategista do
departamento de manejo de
lixo de Estocolmo.
Por trás de toda essa eficiência, porém, está a valorização de uma profissão normalmente desprezada. Lixeiros da capital sueca ganham
de R$ 5.000 a R$ 8.000, salários que mesmo algumas da
cidades mais ricas da Europa
não têm condições de pagar.
Alguma parte desse sucesso ambiental, porém, têm
origem na consciência dos
moradores, que ajudam a fiscalizar quem não recicla seus
resíduos corretamente. Os
infratores recebem multa.
"Temos os "espiões" do lixo", diz Anna Nordin, analista da Agência de Proteção
Ambiental da Suécia. Segundo ela, levou algum tempo
para que as pessoas entendessem os critérios de separação do lixo. "Uma boa estratégia foi ensinar isso às
crianças, porque elas acabam ensinando os pais."
O programa da União Europeia que elegeu Estocolmo
a "capital verde" foi criado para incentivar outras cidades a
seguirem o exemplo. Esse
objetivo talvez não tenha
tanto efeito no curto prazo, já
que a vitória de Estocolmo se
deveu em boa parte ao planejamento urbano inteligente,
algo que não é implantado
do dia para a noite.
À medida que foi crescendo no século 20, a cidade se
preocupou em preservar parques e bulevares. Hoje, 95%
dos habitantes moram a menos de 300 metros da área
verde mais próxima.
Foi só recentemente, porém, que a região central da
cidade conseguiu eliminar
todos os problemas graves de
poluição sonora e excesso de
trânsito. Nesse caso a, consciência verde dos moradores
precisou de um "empurrãozinho" para apressar as mudanças. A exemplo do caso
do lixo, os grandes incentivos foram multas e taxas.
Quem tenta entrar guiando seu próprio carro hoje no
centro da cidade precisa pagar uma taxa de até 20 coroas
suecas (R$ 4,50), medida que
causou polêmica e só entrou
em vigor após um disputado
plebiscito em 2006. A implantação do pedágio urbano venceu por 51% contra
49% dos votos naquele ano.
O alívio no trânsito foi tanto, porém, que hoje mais de
70% da população já apoia a
medida, de certa forma reconhecendo que o pagamento é
uma forma de pressão válida.
"Em 2005 o sistema de
transporte público passou
por uma reforma com uma
expansão muito grande",
conta Anna-Karin Ehn, conselheira da Delegação Sueca
para Cidades Sustentáveis.
"Achávamos que as pessoas
deixariam de usar seus carros e migrariam para o novo
sistema de bondes da cidade,
mas isso só aconteceu após a
implantação da taxa de congestionamento."
O repórter RAFAEL GARCIA viajou a
convite do governo da Suécia
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