São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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ANÁLISE

PT ganha feição nacional, mas sai ferido no coração

Fernando Donasci/Folha Imagem
Funcionário retira propaganda eleitoral para levar a um aterro sanitário da prefeitura um dia após a eleição; mais de 5 toneladas foram levadas ao aterro da avenida Salim Farah Maluf, na zona leste


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT foi o grande vencedor das eleições de domingo, tornou-se um partido de feição nacional e terá o PSDB como principal opositor. Mas sai das urnas "ferido no coração" com a derrota no primeiro turno em São Paulo. Essa é a análise virtualmente consensual de historiadores e cientistas políticos ouvidos pela Folha.
A vitória de José Serra (PSDB) sobre Marta Suplicy (PT) no primeiro turno em São Paulo é vista como um contrapeso saudável à nacionalização do partido pelo historiador José Murilo de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"O eleitor deu uma cara nacional ao PT, mas acabou ferindo o partido no coração com a derrota da Marta. A derrota em São Paulo é boa para a saúde democrática do país e para a do PT", diz.
A eventual derrota do PT no segundo turno em São Paulo, diz ele, reduziria "muito" a arrogância do partido e "o poder dos comissários" -como chama os grupos que controlam o partido.
Para ele, a nacionalização do PT é positiva porque obriga o partido a se tornar mais flexível -"porque terá de fazer mais coalizões".
O historiador Bóris Fausto, do departamento de Ciência Política da USP, aponta ainda que o resultado das eleições derrubou três caciques políticos: Paulo Maluf (PP), Antonio Carlos Magalhães (PFL) e Orestes Quércia (PMDB).
Em compensação, a terceira vitória de Cesar Maia (PFL) no Rio elevou-o ao papel de "figura de projeção nacional", segundo Fausto. Ela serviu também para aquilatar melhor o peso específico de Anthony Garotinho (PMDB).
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) também sai das urnas com uma nova estatura política, na opinião de Fausto e do cientista político Rogério Schmitt, diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. "Se Serra ganhar o segundo turno, Alckmin passa a ser o primeiro da fila entre os candidatos do PSDB à Presidência", afirma Schmitt.
A razão é simples, segundo ele. Serra já havia disputado duas eleições em São Paulo, mas foi só com o endosso de Alckmin que saltou para um novo patamar de votos.
Se há unanimidade no crescimento de Alckmin, não há consenso sobre o porte que o governador Aécio Neves (PSDB), de Minas, terá com a vitória esmagadora do PT em Belo Horizonte.
Enquanto Schmitt acredita que Aécio sai enfraquecido ("a capital é sempre a jóia da coroa", diz), Fausto acha que o governador escapou ileso da derrota. "Ele tem um namoro correspondido com o [Fernando] Pimentel", diz, referindo-se ao prefeito reeleito.
O cientista político Fabiano dos Santos, da UFRJ, diz duvidar da projeção nacional de Alckmin numa eventual candidatura à Presidência. "O Aécio é uma alternativa porque tem boa inserção fora de Minas. O Alckmin tem dificuldades fora de São Paulo porque é um político do interior paulista e nunca foi ministro."
O historiador Ronaldo Vainfas, professor da Universidade Federal Fluminense, acredita que é cedo para apostar numa polarização PT-PSDB. "Há uma mudança na configuração partidária, mas não sei se dá para falar em bipartidarismo. Os dois não têm muita presença no Brasil arcaico."


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