São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2001

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Modelo pedagógico pode ser só truque para atrair alunos

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nos anos 90, virou moda nas escolas brasileiras adotar a teoria construtivista como método pedagógico. Especialistas em educação alertam que muitos colégios não sabem como aplicar o princípio teórico ou usam o termo construtivista como recurso de marketing. "Nesses casos, é melhor optar por uma escola declaradamente tradicional", aconselha o pesquisador do Instituto de Psicologia da USP, Yves de la Taille, um dos mais respeitados construtivistas de São Paulo.
O pesquisador diz que, no ensino tradicional, o professor leva ao aluno o problema e a resposta e dá exercícios para conferir se ele aprendeu. No construtivismo, o estudante é levado a encontrar a resposta juntando conhecimentos que já possui. "Muitas vezes isso é mal aplicado, e qualquer resposta da criança é considerada linda e válida, quando a verdade é que existe uma resposta certa", afirma La Taille.
Professora do programa de Psicologia da Educação e membro do Conselho Estadual de Educação, Vera Placco alerta para o uso do termo construtivista como um jargão. "Para dizer que são modernas, as escolas fazem um requentado de uma escola tradicional com algumas atividades práticas e simplesmente dizem que são construtivistas", declara Vera.
Há quem sustente que o construtivismo desorganizou a escola. É essa a conclusão do professor de filosofia da educação da USP José Sérgio Fonseca de Carvalho, autor da tese de doutorado Construtivismo: Uma Pedagogia Esquecida da Escola, lançada em livro neste mês. "A introdução das idéias construtivistas provocou uma perseguição à cartilha", critica Carvalho. "E aquele professor que alfabetizava todos os seus alunos pelo método tradicional, ele está errado?"
A confusão começa pela transposição para a pedagogia de uma teoria psicológica fundada no princípio de que a criança constrói o seu próprio conhecimento. Carvalho diz que nenhuma prática foi determinada a partir disso. "Um aluno em silêncio pode estar resolvendo um problema de matemática, mas também pode estar apenas olhando pela janela", pondera o autor do livro.


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