São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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Retocar a maquiagem no farol é "proibido'; mulheres já são 30% do mercado de blindagem

Vaidade coloca em risco a segurança

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A mulher é a vítima preferencial dos assaltantes no trânsito, em parte por causa do estereótipo de "sexo frágil", em parte por culpa das "armadilhas da vaidade".
"Mulher costuma retocar a maquiagem no farol. Isso é "proibido". A maioria das vítimas é abordada em momentos de distração", explica o professor da Academia de Polícia Civil da USP Maurício Soares. Ex-delegado, ele ministra cursos de proteção em escolas e em firmas de segurança e ressalta a importância de a motorista prestar atenção à sua volta.
A mesma atenção deve ser usada, segundo ele, no embarque e no desembarque do carro. "Quanto mais rápido, menos risco. Não deixe para desligar o som e fechar a janela só depois de parar, vá fazendo isso antes." Outra dica é usar películas escurecedoras nos vidros. "Ladrão não gosta de surpresas", pondera Soares.
A designer Débora Carvalho, 32, conhece bem o valor desses conselhos. Ela estava parada com seu Peugeot 206 em um farol quando foi abordada por três meninos, que, segundo ela, fingiam levar armas debaixo da blusa. O grupo exigiu o celular e a bolsa. "Minha primeira reação foi acelerar o carro, pois o sinal abriu."
Desde então, Carvalho mudou seus hábitos no trânsito. "Comecei a prestar mais atenção nos faróis. Antes eu andava superdesligada." Outra tática que a designer adotou foi manter uma bolsa falsa com algum dinheiro dentro do carro. A verdadeira vai no porta-malas. Ela já pensou em blindar o carro e tem vontade de estender a película que hoje já escurece as laterais para o vidro da frente. "Os garotos [do assalto] me viram pelo pára-brisa", lembra.
Não é à toa que as mulheres têm ajudado a impulsionar o mercado de blindagem automotiva no Brasil. Segundo dados da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), em 2001, 20% da frota nacional de carros blindados pertencia a mulheres. Hoje o número já subiu para a casa dos 30%.
Uma das maiores empresas do setor, a IAC do Brasil, faz 25% de suas vendas para mulheres. Mas para quem não quer ou não pode blindar o carro, a polícia dá várias dicas de como sobreviver na "selva" do tráfego (veja quadro).

Traumas
A violência no trânsito rendeu à apresentadora de TV Mariana Dib (Rede Mulher e Record), 26, dois traumas. Num primeiro episódio, ela não viu uma motocicleta na hora de passar de uma pista para outra e acabou desviando na última hora. "Não aconteceu nada, mas todos os outros motoqueiros que vinham atrás, ao passar pelo meu carro, chutaram a porta. Tive muito medo", conta.
Em outra ocasião, ela andava com a janela aberta, devagar, procurando uma rua. "Então apareceu um homem em uma moto e enfiou a mão dentro do carro para pegar meus óculos de sol. Joguei os óculos no chão e fugi. Fiquei tão assustada que eu mesma arranhei meu rosto. Hoje não uso mais óculos escuros em São Paulo e, quando vejo um motoqueiro, fecho o vidro", relata. (RGV)



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