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Em busca da mulher completa
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, diz em entrevista à Folha que a realização profissional não é tudo
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
T
ida como a mulher mais
poderosa do governo
Lula, a ministra-chefe
da Casa Civil, Dilma Rousseff,
59, afirma que a realização profissional não é tudo. "A gente
tem de buscar ser uma mulher
completa. Mas não pode deixar
de considerar que é muito importante ter filhos", disse ela,
mãe de uma filha, à Folha.
Para ela, uma função primordial da mulher é "procriar",
embora o mundo moderno
apresente desafios como a inserção profissional.
Numa conversa de dez minutos em seu carro, entre um
compromisso e outro ontem à
noite, a ministra disse que "a
situação da mulher ainda é
muito difícil no século 21" e
ironizou a fama de mulher dura: "Nunca vi ninguém dizer
que um homem é duro".
FOLHA - No século 21, ainda é mais
difícil ser mulher do que ser homem?
DILMA ROUSSEFF - Sem dúvida
nenhuma. A partir da Segunda
Guerra Mundial, quando a mulher entra no mercado de trabalho, você não teve um tempo
histórico suficiente para mudar as condições milenares que
tornaram a mulher responsável por umas coisas, e os homens responsáveis por outras.
No século 21, a conquista da
tecnologia implica também
uma liberação do homem de
certo tipo de atividade. Isso
ainda não está concretizado.
Então nesse período de transição, as mulheres têm algumas
obrigações que são duplas: heranças do passado e movimentos do futuro. A gente passa a
ter um peso em algumas coisas
muito forte.
Mas eu acho também que
tem vantagens, as mulheres estão, ainda de forma insuficiente, conquistando trabalhos menos pesados. Mas temos uma
função fundamental na humanidade, que é procriar. Ninguém está dizendo que a mulher é só para ter filho, mas ela
é para isto, do ponto de vista
até da nossa sobrevivência enquanto espécie.
Hoje, ainda, você tem um
conjunto de mulheres, nas
classes mais pobres, no mundo
inteiro, que são chefes de família, que têm de assumir essa
condição sozinhas, com empregos precários e em condições realmente difíceis.
FOLHA - A senhora ocupa um dos
cargos mais importantes do país. Já
enfrentou algum preconceito nesse
cargo, por ser mulher?
DILMA - Tem uma reação básica em relação a uma mulher desempenhando certas funções.
É que tem um estereótipo que é
exigido da mulher, uma função
de subordinação.
Uma mulher que, pela sua
função tem atividades que implicam mando, ordenar, ter decisões, é vista como uma mulher dura. Cercada de homens
meigos. O grande preconceito
contra mim é eu ser uma mulher dura cercada de homens
meigos, muito meigos.
FOLHA - É preconceito dizerem que
a senhora é dura? A senhora não é
dura?
DILMA - De uma certa forma, é.
Nunca vi ninguém dizer que
um homem é duro.
FOLHA - A senhora já disse que,
com 28 anos, toda subida era descida. A senhora foi guerrilheira e hoje
é ministra. Que conselhos daria à
nova geração de mulheres?
DILMA - Eu acho que a gente
tem de buscar ser uma mulher
completa. É importante a realização profissional, que a gente
se esforce para se capacitar.
Mas não pode deixar de considerar que é muito importante
ter filhos, se realizar também
enquanto mulher. E acho sobretudo que não podemos deixar de sonhar, de querer mais,
de achar que é possível, de, em
que pesem as adversidades, ou
seja, mulheres duras em meio
de homens meigos, a gente tem
de persistir.
FOLHA - É um conselho de mãe?
DILMA - Foi muito importante
na minha vida ser mãe. Eu tinha 28 anos, me achava um
tanto quanto velha para ser
mãe. Eu tenho um arrependimento. Queria ter tido mais filhos, tenho uma filha só, que vai
fazer 30. Acho que é importante. Um ator italiano respondeu
a uma pergunta: O que você leva da vida? A família, os filhos,
os amigos e os amores. E, do
ponto de vista pessoal, é isso.
Do ponto de vista da história
do país, você leva também um
país desenvolvido, não injusto,
em que tenha um valor fundamental em transformar o nosso
povo em cidadão. Da vida a gente leva isso também.
O papel do governo Lula é
provar que é possível que o país
cresça, e seu povo também, tanto homens quanto mulheres.
FOLHA - A secretaria para mulheres
é suficiente?
DILMA - Sinalizar que a questão
da mulher merece uma política
específica -porque você tem
violência específica contra a
mulher, tratamento desigual,
mercado de trabalho em que as
mulheres ganham menos que
os homens, a participação delas
em cargo de chefia não corresponde inclusive à presença delas em algumas atividades.
Do ponto de vista cultural,
você ser capaz de, mantendo as
diferenças, ter uma educação e
uma cultura que promovam
mulheres mais conscientes dos
seus direitos, mais solidárias, é
algo fundamental para uma sociedade. A mulher é muito importante na estruturação de
uma sociedade equilibrada e
não violenta.
Dentro de uma família, a mulher tem um papel estratégico.
Não só é a âncora, como a alavanca. E é difícil ser ao mesmo
tempo âncora e alavanca.
FOLHA - Como se dá com sua filha?
DILMA - Eu me dou muito bem
com ela.
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