São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Direitos ameaçados

Ativistas e entidades tentam combater violência crescente contra mulheres em países em desenvolvimento

ANNE PENKETH
DO "INDEPENDENT"

R osa Franca quer justiça para sua filha. Cinco anos atrás, Maria Isabel, 15, deixou a casa da família na Cidade da Guatemala, a caminho do trabalho, e nunca mais voltou. O estupro e o homicídio de que foi vítima não representam um caso isolado: nos últimos cinco anos, cerca de 2.700 mulheres e meninas foram vítimas de homicídios deliberados na Guatemala, e o número vem aumentando.
Mas Rosa Franca precisou organizar uma campanha para tentar fazer com que a polícia investigue o caso, algo que jamais teria acontecido caso ela vivesse em Londres ou Paris.
Quando governos e organizações de defesa dos direitos da mulher celebrarem o Dia Internacional da Mulher, hoje, deveríamos refletir sobre o problema das mulheres nos países em desenvolvimento, onde ativistas assumem imensos riscos pessoais em seu trabalho pela igualdade e pela liberdade.
Na Guatemala, as mulheres se manifestarão para exigir que o governo aja e detenha o massacre de mulheres, que atingiu nível elevado a ponto de ser classificado como "femicídio".
As estatísticas são chocantes: em todos os países em desenvolvimento, os direitos da mulher estão sob ameaça, seja pelo tráfico de escravas sexuais, negação de educação ou discriminação no emprego.
A Human Rights Watch, que acompanha a situação em 15 países, entre os quais Afeganistão, África do Sul e Brasil, identificou aumento na violência contra meninas estudantes, empregadas domésticas ou envolvidas em conflitos com a lei.
A despeito dos compromissos de elevar a presença de mulheres em cargos governamentais, assumidos na conferência da mulher em Pequim, em 1995, o progresso vem sendo lento e limitado. Um relatório compilado pelo Seminário de Salzburgo (organização internacional de pesquisa) mostra que só 13 dos 193 países estudados têm 25% ou mais de mulheres em posições decisórias em seus governos. Em 1994, a proporção de mulheres ministras era de 6,2%, e, em 2005, havia subido para apenas 6,8%.
Organizações de assistência como a ActionAid dizem que os direitos das mulheres desapareceram da agenda internacional, em favor da campanha por erradicar a pobreza. Elas vêm lutando para que a causa ganhe posição central nas políticas de desenvolvimento.
"Trinta e cinco anos de trabalho com comunidades nos ensinaram que, a menos que apoiemos as mulheres no reconhecimento e na luta por seus direitos, não teremos esperança de criar um mundo mais justo", disse Jessica Woodroffe, diretora de política da ActionAid.
Hilary Benn, secretário de desenvolvimento internacional do governo britânico, confirmará, em discurso a ser realizado hoje, que seu departamento está agindo nisso. Ele delineará a maneira pela qual o foco será alterado, "enfatizando mais o papel vital que as mulheres desempenham em prevenir conflitos e garantir a paz".
Woodroffe recebeu positivamente a mudança na atitude do governo. "Não se pode combater a pobreza sem uma campanha pelos direitos da mulher."


TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI


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