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Direitos ameaçados
Ativistas e entidades tentam combater violência crescente contra mulheres em países em desenvolvimento
ANNE PENKETH
DO "INDEPENDENT"
R
osa Franca quer justiça
para sua filha. Cinco
anos atrás, Maria Isabel, 15, deixou a casa da família
na Cidade da Guatemala, a caminho do trabalho, e nunca
mais voltou. O estupro e o homicídio de que foi vítima não
representam um caso isolado:
nos últimos cinco anos, cerca
de 2.700 mulheres e meninas
foram vítimas de homicídios
deliberados na Guatemala, e o
número vem aumentando.
Mas Rosa Franca precisou
organizar uma campanha para
tentar fazer com que a polícia
investigue o caso, algo que jamais teria acontecido caso ela
vivesse em Londres ou Paris.
Quando governos e organizações de defesa dos direitos da
mulher celebrarem o Dia Internacional da Mulher, hoje, deveríamos refletir sobre o problema das mulheres nos países em
desenvolvimento, onde ativistas assumem imensos riscos
pessoais em seu trabalho pela
igualdade e pela liberdade.
Na Guatemala, as mulheres
se manifestarão para exigir que
o governo aja e detenha o massacre de mulheres, que atingiu
nível elevado a ponto de ser
classificado como "femicídio".
As estatísticas são chocantes:
em todos os países em desenvolvimento, os direitos da mulher estão sob ameaça, seja pelo
tráfico de escravas sexuais, negação de educação ou discriminação no emprego.
A Human Rights Watch, que
acompanha a situação em 15
países, entre os quais Afeganistão, África do Sul e Brasil, identificou aumento na violência
contra meninas estudantes,
empregadas domésticas ou envolvidas em conflitos com a lei.
A despeito dos compromissos de elevar a presença de mulheres em cargos governamentais, assumidos na conferência
da mulher em Pequim, em
1995, o progresso vem sendo
lento e limitado. Um relatório
compilado pelo Seminário de
Salzburgo (organização internacional de pesquisa) mostra
que só 13 dos 193 países estudados têm 25% ou mais de mulheres em posições decisórias em
seus governos. Em 1994, a proporção de mulheres ministras
era de 6,2%, e, em 2005, havia
subido para apenas 6,8%.
Organizações de assistência
como a ActionAid dizem que os
direitos das mulheres desapareceram da agenda internacional, em favor da campanha por
erradicar a pobreza. Elas vêm
lutando para que a causa ganhe
posição central nas políticas de
desenvolvimento.
"Trinta e cinco anos de trabalho com comunidades nos ensinaram que, a menos que apoiemos as mulheres no reconhecimento e na luta por seus direitos, não teremos esperança de
criar um mundo mais justo",
disse Jessica Woodroffe, diretora de política da ActionAid.
Hilary Benn, secretário de
desenvolvimento internacional do governo britânico, confirmará, em discurso a ser realizado hoje, que seu departamento está agindo nisso. Ele
delineará a maneira pela qual o
foco será alterado, "enfatizando mais o papel vital que as mulheres desempenham em prevenir conflitos e garantir a paz".
Woodroffe recebeu positivamente a mudança na atitude do
governo. "Não se pode combater a pobreza sem uma campanha pelos direitos da mulher."
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI
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