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Em 50 anos e 16 filmes, diretor reinventou a arte do cinema
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Com o ainda inédito "Eyes Wide
Shut", foram apenas 17 título sem
50 anos de cinema. Stanley Kubrick reinventou pacientemente a
arte do filme, espaçando mais e
mais suas revoluções. Leia abaixo a
cada obra de Kubrick.
Curtas - Vindo da fotografia, Kubrick estreou atrás da câmera com
três documentários de curta-metragem, muito marcado por suas
experiências como repórter fotográfico da revista "Look". "Day of
Fight" (1951) reconstitui os preparativos de um boxeador comum para
mais um combate. "Flying Padre"
(1952) focaliza um religioso que literalmente voava para aproximar
seus fiéis dos céus. "The Seafarers" (1953), um filme de encomenda, destaca-se apenas por tratar-se
de seu primeiro filme colorido.
Antes dessas experiências, Kubrick teria rodado um breve curta
ficcional ("A.I."), tido como perdido, em que adiantava as idéias sobre inteligência artificial desenvolvidas com o computador HAL de
"2.001".
"Fear and Desire" (1953) - O longa de estréia, rodado com dinheiro
emprestado por parentes e amigos, é o primeiro dos cinco estudos
fílmicos de Kubrick sobre a guerra.
Quatro soldados sobrevivem a
queda de um avião em território
inimigo. Uma jovem vem atrapalhar o plano de retorno a solo seguro. É o primeiro elemento feminino a perturbar o mundo másculo,
à moda John Huston, de Kubrick.
"A Morte Passou por Perto"
(1955) - Kubrick tempera seu primeiro -e ultra-estilizado- exercício
no policial noir com sua experiência de repórter no submundo do
boxe. Um lutador envolve-se com
uma dançarina ao defendê-la das
agressões de seu poderoso amante.
Este jura vingança mas o destino
exibe mais um de seus caprichos.
"O Grande Golpe" (1956) - O último grande "noir" da era clássica.
Um homem sai da cadeia e aposta
tudo num último assalto. Mas o
mundo real parece responder-lhe
com uma conspiração difusa e
avassaladora. O primeiro Kubrick
maduro marca sua estréia em
Hollywood. Toda a obra de Quentin Tarantino partiu daqui.
"Glória Feita de Sangue" (1957)
- O mais grave libelo antibelicista
de Kubrick. Trincheiras européias,
Primeira Guerra. Um general envia sua tropa a uma missão suicida.
Ao fracassar, manda processar três
soldados por covardia. Pena: execução. Como o coronel que os defende, Kirk Douglas transmite
uma fúria cívica não menos que
magnética.
"Spartacus" (1960) - A revolta do
escravo Spartacus contra o decadente império romano num raro
épico com cérebro. Kubrick reafirma a expansão de seus talentos orquestrando tanto grandes cenas de
batalha quando sutis confrontos
pelo poder, de gigantes como Laurence Olivier, Charles Laughton e
Peter Ustinov. Ousado política,
dramática e sexualmente, é talvez
o mais subestimado dos filmes do
diretor.
"Lolita" (1962) - Uma versão heterodoxa, pesada e grotesca, para o
romance de Vladimir Nabokov.
Um professor de literatura se apaixona por uma ninfeta e casa-se
com a mãe dela para facilitar a convivência. Morta a senhora, consuma-se a relação. Mudam-se de cidade, viajam pelos EUA, sempre
em busca do equilíbrio impossível.
Há mais obsessão e culpa no Humbert fílmico. E o rival Clare Quilty,
um vulto no livro, é praticamente
uma criação kubrickiana imortalizada por Peter Sellers.
"Doutor Fantástico" (1964) - A
sátira definitiva sobre a Guerra
Fria, uma das comédias mais subversivas já registradas em filme.
No auge do braço de ferro nuclear
entre EUA e URSS, Kubrick destrói
com humor macabro a tese de que
haveria sobreviventes há um confronto atômico. Um paranóico general americano ordena o ataque
inicial -e nada parece capaz de detê-lo. Peter Sellers em três papéis e
a Sala de Guerra do Pentágono
agarram na memória.
"2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968) - A partir de uma história de Arthur C. Clarke, Kubrick levou ao paroxismo sua pesquisa em
torno do cinema como experiência
audiovisual autônoma e irreprodutível. A história do progresso
científico da humanidade transforma-se em pesadelo quando a
criatura volta-se contra o criador.
Raríssimos filmes capturaram o
mistério das grandes obras de arte,
como as novelas de Kafka ou as telas de Pollock. Este é um deles.
"Laranja Mecânica" (1971) - O
romance futurista de Anthony
Burgess serve para Kubrick rediscutir o mal-estar na civilização.
Toda sua obra madura examina
sob o ponto de vista freudiano histórias com potencial mitológico
que tratem de personagens desajustados, dada a repressão instintual exigida pela vida em sociedade. O inesquecível Alex de Malcolm MacDowell é apenas mais um
deles.
"Barry Lyndon" (1975) - A mais
fiel das adaptações literárias de
Kubrick, a partir do clássico de
Thackeray, sobre as desventuras
de um soldado irlandês em guerras
na Europa do século passado. Nada supera o impacto da opção pela
fotografia com luz natural.
"O Iluminado" (1980) - A simples história de Stephen King sobre um escritor sofrendo de bloqueio criativo viu-se transformada
no mais aterrorizante dos filmes.
Kubrick brinca com arquétipos e
extrai de Jack Nicholson uma performance que o aprisionou até há
pouco.
"Nascido para Matar" (1987) - A
Guerra do Vietnã segundo Kubrick. A estrutura do "romance de
formação" a serviço de uma fábula
sobre a cruel educação para o assassínio de um grupo de jovens
"marines" americanos. O menos
orgânico título de sua filmografia.
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