São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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FERNANDO MORAIS

Autor de best-sellers que lhe renderam R$ 800 mil no ano passado, Fernando Morais tem trajetória política ligada ao ex-governador, de quem é amigo há 30 anos

Escritor cede a apelo de Quércia

Arquivo pessoal
Fernando Morais com Fidel durante vôo a Manágua para festejos de um ano da revolução sandinista


LIA HAMA
DA REDAÇÃO

Fernando Gomes de Morais, 55, surpreendeu ao anunciar ser candidato pelo PMDB ao governo paulista. Deixou de lado livros e projetos pessoais para encabeçar uma candidatura apontada pelos adversários como "laranja", mera fachada para dar tempo na TV ao agora candidato ao Senado Orestes Quércia, de quem é afilhado político e amigo há quase 30 anos.
Autor de best-sellers como "A Ilha", "Chatô" e "Olga", tem livros traduzidos em 18 países. O dinheiro dos direitos autorais, segundo afirma, lhe permitiu uma vida confortável, aberta a extravagâncias como a temporada de dois anos em Paris, entre 99 e 2000, e o ultraleve que pretende comprar, avaliado em US$ 80 mil.
No ano passado, seus rendimentos totalizaram R$ 800 mil, o equivalente a uma renda mensal de cerca de R$ 67 mil. Se eleito governador de São Paulo, receberá um salário bruto de R$ 12.720,00.
No PMDB, milita há 30 anos, desde os tempos do MDB, partido de oposição ao regime militar. Desde então, foi eleito duas vezes deputado estadual em São Paulo (78 e 82) e chefiou duas secretarias estaduais: a de Cultura, no governo Quércia (87-90), e a de Educação, no governo Fleury (91-94).
Sofreu duas derrotas: uma em 86, ao disputar vaga para deputado federal, e outra em 98, quando foi vice na chapa de Quércia ao governo paulista.
Fiel a sua amizade com Quércia, com quem afirma manter uma "relação fraterna", faz a defesa do ex-governador, alvo de uma série de denúncias de corrupção. "O que eu sei é o seguinte: em 1974 fui com o Quércia a um comício de Ulysses Guimarães na fronteira com o Mato Grosso. Ele foi pilotando o avião. Era dele. Ele já morava em um apartamento de cobertura em Campinas e não tinha exercido nenhum cargo público."
Há uma espécie de dívida moral do escritor com o ex-governador, que disputa nesta eleição uma vaga ao Senado. A ligação entre os dois se intensificou a partir de 75, após o enterro do jornalista Vladimir Herzog, assassinado numa cela do DOI-Codi, órgão de repressão do regime militar. Na ocasião, um dos jornalistas presos que puderam ir ao enterro cochichou no ouvido de Quércia para avisar à família de Morais que, na hora da tortura, os militares iriam querer saber o que ele havia feito em Cuba. Quércia localizou o irmão mais velho de Morais, Carlos Wagner, e deu o recado.
Um dia antes da morte de Vlado, Morais havia escapado de oficiais que foram buscá-lo na Editora Três, onde trabalhava. Naquele ano, Morais havia viajado a Cuba e tinha escrito uma série de reportagens que deram origem ao livro "A Ilha", publicado em 76.
A militância de esquerda marca a trajetória de Morais, que participou do movimento pela Anistia, em 79, pelas Diretas-Já, em 83 e 84, e pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 92. Posições que o aproximaram de outros partidos, como o PT, com quem diz manter "ótimas relações".
"As pessoas se espantam por eu não ser petista. Acho que não entrei no PT pelo mesmo motivo que não entrei no "partidão" [Partido Comunista Brasileiro]: sou muito indisciplinado. O PT é um partido muito rigoroso."
Filho de pai bancário e mãe dona-de-casa, Morais nasceu em 1946 na cidade de Mariana (MG), numa família de nove irmãos. É casado com a historiadora Marina Maluf, 51, que, o escritor faz questão de frisar, não possui nenhum parentesco com seu adversário do PPB, Paulo Maluf.


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