São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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11.09/UM ANO DEPOIS

Um ano depois do maior ataque já sofrido pelos EUA, o mundo segue ainda digerindo suas consequências e sendo remodelado por elas. Ainda se discute a dimensão histórica dos atentados, mas seus ecos reverberam em várias partes do planeta. A guerra ao terrorismo lançada por Bush expôs o enorme poderio bélico americano, cerceou liberdades individuais, redesenhou o quadro geopolítico mundial e abalou as relações entre o islã e os não-muçulmanos. E a guerra deve prosseguir, agora com os canhões de Washington apontados para o Iraque. Outros capítulos virão de uma história iniciada há um ano e sem prazo para terminar.

O dia que não acabou

Aris Economopoulos/The Star-Ledger
As Torres Gêmeas do World Trade Center logo após terem sido atingidas por aviões sequestrados, em 11 de setembro do ano passado


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Na França, um esportista anunciou que vai nadar de Washington a Nova York (800 quilômetros, 25 dias). Na Alemanha, um casal turco briga na Justiça pelo direito de batizar seu recém-nascido de "Osama bin Laden".
Nos EUA, adolescentes incorporaram a seu vocabulário gírias como "Ponto Zero" (para quartos bagunçados), "Isso é tão 10 de Setembro" (para preocupações frívolas) e "jihadizado" (quando um estudante é disciplinado).
A três dias do primeiro aniversário do maior ataque terrorista da história dos Estados Unidos, que matou mais de 3.000 pessoas, o mundo ainda digere suas consequências e se pergunta se e como o trágico 11 de setembro de 2001 afetou o curso da história.
"Ninguém que estava vivo naquele dia vai se esquecer do choque, do ultraje e da dor insuportável por que passaram tantos", disse à Folha o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. "Também ficamos com a dolorosa percepção de que agora vivemos permanentemente nas trincheiras de uma guerra."
Guerra é o termo mais adequado. A operação militar, de segurança interna e de inteligência deflagrada pelos EUA foi bem-sucedida ao destruir campos de treinamento e derrubar o governo do Taleban no Afeganistão, que dava guarida à organização terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden. Mas falhou em outros setores. O paradeiro de Bin Laden, o saudita que liderava a Al Qaeda e assumiu a autoria dos ataques, continua desconhecido. Seus principais assessores também têm paradeiro incerto, assim como o mulá Mohamad Omar, líder do Taleban.
Desde 11 de setembro, o governo prendeu mais de 10 mil pessoas nos EUA, a maioria de origem árabe, dos quais menos de mil continuam sob custódia.
Foi o maior retrocesso nas liberdades individuais do país desde a Segunda Guerra. O Congresso aprovou uma legislação mais dura contra o terrorismo. Países da Europa fizeram o mesmo, sob protestos de grupos de defesa dos direitos humanos.
Os atentados causaram também realinhamentos geopolíticos em várias partes do mundo, pressionados por Bush, para quem ou se está com os EUA na guerra ao terror ou contra eles.
O presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, percebeu que era o momento de oferecer ajuda na campanha de Bush em troca de maior integração com o Ocidente, inclusive na Otan (aliança militar ocidental). O ditador paquistanês, Pervez Musharraf, teve seu governo legitimado por Washington ao prestar apoio essencial no conflito no vizinho Afeganistão. No Oriente Médio, a histórica aliança EUA-Arábia Saudita está ameaçada.
Um ano depois dos ataques, os ecos do 11 de setembro seguem afetando o mundo.


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