São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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BALANÇO

Um ano depois, não há em Nova York quem saiba quantas pessoas morreram exatamente na maior tragédia da história dos Estados Unidos. No dia do atentado, as estimativas chegaram a 50 mil mortos; o número oficial mais recente é de 2.801. Para os nova-iorquinos, porém, o medo ganhou mais significado do que os números

Ninguém sabe quantos morreram

DE NOVA YORK

Um ano depois, o repórter sai com a missão de descobrir quantas pessoas exatamente morreram no dia 11 de setembro de 2001 em Nova York. "Da última vez que chequei, eram dois mil, oitocentos e tantos", aproximou o prefeito Michael Bloomberg em encontro com a imprensa estrangeira na última quarta-feira.
"Quase 3.000 pessoas, não é?", responde à Folha Peter L. Rinaldi, funcionário da Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, cujo cargo oficial é o de gerente-geral da área onde ficava o World Trade Center, mas que funciona como prefeito do chamado Ponto Zero.
"Mais do que poderemos suportar", disse na primeira entrevista coletiva depois do ataque terrorista o então prefeito Rudolph Giuliani -uma frase profética, que respondia à mesma pergunta e que nunca foi corrigida por um número final.
A verdade é que, até agora, ninguém sabe ao certo quantas vítimas teve o World Trade Center. No próprio dia falava-se em 20 mil a 50 mil pessoas (de fato, 25 mil conseguiram ser retiradas com vida dos dois prédios naquele dia), número que caiu para 6.500 nas semanas seguintes e que passou meses estacionado perto de metade disso.
Como a cerimônia se aproxima e na manhã do dia 11 o ex-prefeito Giuliani lerá os nomes do que a prefeitura considera que sejam todos os mortos e desaparecidos naquele dia, o governo divulgou na noite de sexta-feira o que chamará de número provisoriamente oficial: 2.801 pessoas.
Destes, 1.389 tiveram os restos mortais identificados, sendo que 600 deles por DNA, e pouco menos do que isso recebeu atestado de óbito emitido por tribunais especiais com base apenas em evidências circunstanciais apresentadas pelas famílias, sem que os corpos tenham sido encontrados. Restam 70 casos, que estão na categoria "desaparecidos".
Só que isso não é inteiramente verdade, pois, desde que a prefeitura colocou uma força-tarefa para investigar a lista, no fim do mês passado, pelo menos oito pessoas foram achadas vivas, e muitos estrangeiros dados como mortos pelos consulados acabaram aparecendo com vida em seus países de origem.
Ainda, duas pessoas que morreram dias depois de 11 de setembro em hospitais fora de Nova York, mas de ferimentos causados pelo ataque, serão incluídas, ao mesmo tempo que se excluirá o nome de uma mulher que aparecia duas vezes, com o sobrenome de solteira e de casada.
Há também os que simplesmente se recusaram a pedir atestado de óbito, a maioria parentes de bombeiros. "Eu não estou iludida nem acho que meu marido vai voltar para casa", diz Donna Hickey, mulher do capitão Brian Hickey, listado entre os desaparecidos. "Mas um pedaço de papel não vai mudar nada para mim."
E as fraudes. Desde o ataque, pelo menos 70 casos foram detectados pelo FBI (a polícia federal dos EUA), todos de pessoas que afirmavam ter perdido parentes naquele dia, muitas vezes com a cumplicidade do próprio, que "desaparecia" por uns tempos. Até agora, 25 foram processados.

Outras listas
Enquanto isso, o departamento de polícia trabalha com uma lista interna em que soma 2.823 desaparecidos e mortos; já as relações mantidas por organizações de mídia norte-americana variam entre 2.786 a 2.814, sendo o último o número da agência de notícias Associated Press, considerado por muitos o mais fiel.
De certo mesmo e incontestável só o número de mortos no choque do vôo contra o Pentágono e na queda do avião na Pensilvânia: 184 e 40 pessoas, respectivamente. Mas também aí reside uma polêmica: há listas que incluem os sequestradores nos números, que passam então para 189 e 44.
Outras optam por deixá-los de fora. Afinal, eles não são exatamente "vítimas", dizem.
(SÉRGIO DÁVILA)


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