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Risco para o Brasil é mínimo, mas existe
Tsunamis são muito raros no oceano Atlântico, mas São Vicente já enfrentou onda em 1542
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Se você é fã do seriado CSI Miami, do canal Sony, já sabe desde 21
de dezembro que tsunamis podem um dia devastar o litoral
atlântico das Américas, Nordeste
brasileiro incluído. A probabilidade é ínfima, mas não foi inventada por roteiristas desatinados.
Os autores da idéia encaixada
no episódio da série são os geofísicos Steven Ward (Universidade
da Califórnia em Santa Cruz) e Simon Day (University College de
Londres). Eles publicaram em
2001 no periódico "Geophysical
Research Letters" uma simulação
mostrando o que aconteceria se
entrasse em colapso uma parte do
vulcão Cumbre Vieja, no arquipélago das Canárias, a menos de 200
km da costa noroeste da África.
Uma avalanche de 500 km3 de
terreno dentro do oceano elevaria
a água cerca de 900 m, concluíram
os computadores de Ward e Day.
A oscilação se propagaria em ondas sucessivas, cada vez menores,
por todo o Atlântico. Fora as ilhas,
o primeiro estrago seria sentido
uma hora depois na costa africana, com tsunamis de 50-100 m.
No que toca ao Brasil, o estrago
ocorreria seis horas depois do colapso do vulcão. Iria de Fernando
de Noronha e do Rio Grande do
Norte até o Amapá. Ondas de 4 m
a 18 m se abateriam sobre capitais
como Fortaleza e São Luís.
Vários pesquisadores brasileiros conheciam a pesquisa de
Ward e Day e a mencionaram logo após a tragédia na Ásia. Um
dos primeiros foi o físico Celso
Pinto de Melo, da Universidade
Federal de Pernambuco, que escreveu um artigo para o informativo "Jornal da Ciência".
Melo afirmava no texto que as
probabilidades de um evento desses seriam "minúsculas", mas
que, na escala geológica de tempo
(milhões de anos), até as coisas
mais improváveis acabam acontecendo. Lembrou que a vila de
São Vicente, no litoral paulista, foi
assolada em 1542, pouco após sua
fundação, por ondas que se supõe
tenham alcançado 8 m de altura e
avançado 150 m terra adentro.
Um dos poucos cientistas interessados em tsunamis no Brasil é
o geofísico peruano Jesús Berrocal, 66, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Ele está preparando para as usinas nucleares de
Angra dos Reis (RJ) um estudo
sobre o risco de tsunamis na costa
leste do Brasil e agora foi convidado a apressá-lo. Além disso, vai
participar em Portugal de um
evento em memória dos 250 anos
do terremoto de 1755 em Lisboa,
em que a maioria das mortes teria
sido causada pela onda gigante
que se seguiu -o único grande
exemplo de tsunami no Atlântico.
Segundo Berrocal, o risco de uma
tsunami no Brasil "é muito pequeno, mas não é zero".
O fato é que os tsunamis são
muito raros no Atlântico, pois
80% delas ocorrem no Pacífico.
Os dados indicam que ondas acima de 7,5 m ocorrem a intervalos
médios de 15 anos, segundo informou o sítio news@nature.com.
Segundo o Centro Benfield de
Pesquisa de Riscos de Londres,
ondas de 10 m ou mais ocorrem
só a cada mil anos no Atlântico
Norte, no Caribe e no Índico (onde ocorreu a tragédia). O tempo
cai para 250 anos no caso do Alasca e da costa pacífica da América
do Sul, e 200 anos, no do Havaí.
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