São Paulo, domingo, 09 de janeiro de 2005

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Onde está a imagem-símbolo da tragédia no oceano Índico?

EDER CHIODETTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O maremoto que assolou as costas do Índico não foi devidamente fotografado. Com isso a cobertura jornalística do cataclismo e o imaginário coletivo carecem de imagem-símbolo. No dia seguinte ao maremoto, essa carência de imagem se refletiu nas primeiras páginas dos jornais de todo o mundo. Apostaram em combinações de fotos que não traduziram a grandeza do fato.
O fator surpresa seguido do medo e do instinto de autopreservação privaram as pessoas que portavam câmeras de imagens de impacto no momento em que as ondas chegavam. Os repórteres fotográficos não conseguiram chegar a tempo de flagrar o episódio. Assim, só é possível "enxergar" a real dimensão do tsunami pelo relato dos sobreviventes.
Imagens-síntese são aquelas que aliam informação clara e precisa a uma notória plasticidade. O exemplo máximo é a cena da explosão dos aviões nas torres do WTC. Os prisioneiros iraquianos nus em Abu Ghraib, os corpos ao lado do trem destroçado em Madri, o Concorde em chamas antes de cair sobre Paris.
Há fotos de impacto realizadas após a passagem do tsunami, entre as quais se destaca uma de Gurinder Osan, da Associated Press, na qual se vê o desespero dos pais diante do corpo do filho de 8 anos, na Índia. Mas essas fotos não se diferenciam muito das imagens de grandes enchentes que ocorrem com freqüência.
O mundo parece não se conformar em ver os jornais e a TV sem obter imagens que mostrem a causa, e não apenas os efeitos da tragédia. A angústia com essa ausência é tal que começaram a circular na internet imagens falsas do tsunami. As fotografias, ao que parece, são de uma ressaca do mar na China, em 2002.
Ao que consta, é mais fácil resignar-se com uma fatalidade do que com a ausência de uma imagem-síntese na memória.


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