|
Texto Anterior | Índice
Onde está a imagem-símbolo da tragédia no oceano Índico?
EDER CHIODETTO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O maremoto que assolou as
costas do Índico não foi devidamente fotografado. Com isso a
cobertura jornalística do cataclismo e o imaginário coletivo carecem de imagem-símbolo. No dia
seguinte ao maremoto, essa carência de imagem se refletiu nas
primeiras páginas dos jornais de
todo o mundo. Apostaram em
combinações de fotos que não
traduziram a grandeza do fato.
O fator surpresa seguido do medo e do instinto de autopreservação privaram as pessoas que portavam câmeras de imagens de impacto no momento em que as ondas chegavam. Os repórteres fotográficos não conseguiram chegar a tempo de flagrar o episódio. Assim, só é possível "enxergar" a
real dimensão do tsunami pelo relato dos sobreviventes.
Imagens-síntese são aquelas
que aliam informação clara e precisa a uma notória plasticidade. O
exemplo máximo é a cena da explosão dos aviões nas torres do
WTC. Os prisioneiros iraquianos
nus em Abu Ghraib, os corpos ao
lado do trem destroçado em Madri, o Concorde em chamas antes
de cair sobre Paris.
Há fotos de impacto realizadas
após a passagem do tsunami, entre as quais se destaca uma de Gurinder Osan, da Associated Press,
na qual se vê o desespero dos pais
diante do corpo do filho de 8 anos,
na Índia. Mas essas fotos não se
diferenciam muito das imagens
de grandes enchentes que ocorrem com freqüência.
O mundo parece não se conformar em ver os jornais e a TV sem
obter imagens que mostrem a
causa, e não apenas os efeitos da
tragédia. A angústia com essa ausência é tal que começaram a circular na internet imagens falsas
do tsunami. As fotografias, ao que
parece, são de uma ressaca do
mar na China, em 2002.
Ao que consta, é mais fácil resignar-se com uma fatalidade do que
com a ausência de uma imagem-síntese na memória.
Texto Anterior: Diplomata e seu filho são enterrados no Rio Índice
|