São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Remédio caseiro

Trabalho psicológico ainda é visto com desconfiança por dirigentes, técnicos e atletas, que usam auto-ajuda e técnicas próprias para evitar que a cabeça atrapalhe o corpo

DA REPORTAGEM LOCAL

Psicologia e esporte ainda não caminham juntos no Brasil. Por mais que o trabalho com o tema tenha evoluído, ele ainda está distante da realidade de muitos atletas da elite do país.
"Ainda há o preconceito de que só precisa de auxílio quem está doente", afirma a psicóloga Márcia Pilla do Valle.
Para não deixar a cabeça interferir no desempenho, porém, os competidores lançam mão de uma gama de técnicas, crenças e artimanhas que ganham mais espaço às vésperas de torneios como o Pan.
"Os próprios atletas reconhecem que um treinamento psicológico é importante, que faz diferença no rendimento. Mas quando você pergunta se ele faz algum tipo de trabalho, a resposta quase sempre é não", afirma Renato Miranda, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).
Rosângela Conceição, além dos trabalhos psicológicos que faz no Ibirapuera, baseados em atividades lúdicas e corporais, encontrou equilíbrio e concentração no kung-fu.
"Me ajuda a ficar mais segura. Uma das coisas que me afetam é ir para as competições sem meu técnico. Ele pode ver coisas na luta e me ajudar a resolvê-las. Perco muitas lutas que faço sozinha por detalhes", diz a atleta de luta livre.
Lucila, da seleção de handebol, sente falta do trabalho psicológico feito na equipe em 2001. Lembra que aprendeu muito sobre como lidar com as companheiras de quadra.
"As pessoas pensam de forma diferente, você tem de ter paciência, saber que uma é mais quieta, outra mais brigona, outra mais certinha... E aprende a entender melhor os seus limites também", diz.
A atleta encontrou sua própria forma de ganhar motivação nos jogos. Sempre que chega ao ginásio, procura uma criança para olhar. Diz que lhe trás alegria. A estratégia, porém, já quase a derrubou.
"Uma vez, na Argentina, eu não achava uma criança de jeito nenhum. Até que encontrei um garoto que tinha uns 10, 11 anos e relaxei... Não era tão criança, mas valeu", brinca ela.
Uma técnica utilizada por muitos atletas é visualizar sua competição. Mentalmente, Fabiana Murer planeja seus saltos com vara, Fernando Saraiva levanta pesos, Danielle Zangrando dá golpes de judô.
"Li uma vez na revista "Time" que muitos atletas fazem isso. Não lembro quando comecei. Mentalizo os saltos antes de dormir", afirma Fabiana.
O medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima também nunca treinou com um psicólogo. Mas faz um trabalho de relaxamento diário. E segue uma planilha de treinos que mostram sua evolução.
"A preparação mental é feita no dia a dia", diz o técnico Ricardo D'Angelo.


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