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Eu estava lá
"Ganhei uma medalha e dormia no chão"
Acelino "Popó" Freitas
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Popó, o Pan de
Mar del Plata-95 foi
sua Olimpíada, o patamar mais alto que
conseguiu atingir como pugilista amador. De família modesta, logo depois, para
levar dinheiro para casa, tornou-se profissional.
Fora o lado financeiro, pouca
coisa mudou na realidade do
brasileiro. Nem sua mentalidade ao fazer a transição.
"Sempre subi ao ringue com
o objetivo de vencer todas as
lutas. Nisso [o preparo psicológico], nada mudou", explica o
pugilista baiano, 31.
O ex-campeão mundial profissional de boxe nas categorias
superpena e leve conta que,
apesar de ter gostado da experiência de ir ao Pan, decepcionou-se ao retornar ao país.
""Ao sair do Brasil, eu dormia
embaixo de arquibancadas [em
São Paulo]. Não tinha agasalho
para correr. Achei que alguma
coisa ia mudar se conseguisse
algo no Pan-Americano. Ganhei só US$ 100 pela medalha,
não apareceu patrocínio, não
consegui mais nada", diz.
""Estava sem patrocínio e
passando dificuldades. Ganhei
uma medalha e ainda assim
dormia no chão", afirma, ao
lembrar da época em que vivia
com a família em um casebre,
construído sobre um morro.
Popó decidiu não esperar até os
Jogos Olímpicos de Atlanta.
Em 14 de julho de 1995, pulverizou José Adriano Soares no
primeiro assalto por nocaute.
Foi o primeiro de uma seqüência de 29 nocautes.
""Cheguei à final [no Pan], e o
resultado quando perdi foi
contestado. Lá, eles já usavam a
maquininha. Meu estilo sempre foi mais parecido com o
profissional", diz Popó, sobre a
diferença na maneira de lutar
entre amadores e profissionais.
No amadorismo, os atletas
tentam tocar o oponente e acumular pontos. Já o profissionalismo beneficia quem busca definir as lutas por nocaute.
A teoria de Popó ficou clara
logo em seu combate inicial no
Pan da Argentina, quando passou por um porto-riquenho,
obrigando o árbitro a abrir três
contagens por conta de sua pegada. Na final, encarou o cubano Julio Gonzalez, que viria a
ser campeão mundial amador e
foi superado por pontos.
Na Vila Pan-Americana, Popó aproveitou para renovar o
guarda-roupa. Trocou um uniforme da delegação nacional,
que ganhara, por um calçado.
""Nunca tive um tênis bonito
até aquela época", lembra ele,
que nas horas vagas na Vila
conversava com atletas como
Zequinha Barbosa (atletismo)
e Mário Tranquilini (judô).
Uma característica constante na carreira do brasileiro se
manifestou no pódio ao receber a prata. O pugilista chorou.
""É incontestável. Foi uma
emoção grande", diz Popó, que
lamenta não ter participado do
desfile da delegação na cerimônia de abertura do Pan, devido
ao calendário de competição.
Agora, quer matar uma vontade que já dura 12 anos durante a abertura dos Jogos do Rio.
""Olha, quero desfilar. E como vou fazer parte oficialmente da comissão técnica, com
credencial e tudo...", explica o
boxeador, que na capital fluminense atuará como uma espécie de motivador da delegação
brasileira de boxe.
""Tudo melhorou da minha
época para agora. Ajuda de custo, nutricionista, fisiologista,
torneios no exterior. Agora,
vou falar como era na minha
época, da oportunidade que tive. Para mim, participar do Pan
foi um sonho, uma satisfação
pessoal", define o brasileiro.
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