São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Nota de corte

Fantasma da perda da vaga em competições importantes atormenta atletas e faz competidores pensarem até em desistir da carreira ao serem alijados por falhas na preparação ou contusões

DA REPORTAGEM LOCAL

Escalada para o Pan do Rio, dona da braçadeira de capitã e com o joelho recuperado, a carioca Lucila, 31, ainda sofre ao lembrar dos Jogos que perdeu há quatro anos.
Um dia antes de embarcar para Santo Domingo, a jogadora de handebol sofreu grave lesão no joelho. Foi cortada com as malas prontas para a viagem.
"Foi a pior fase da minha vida. Pensei em parar, fiquei deprimida. Precisei de pessoas para me ajudar, minha família veio ficar comigo [em São Paulo]", afirma a jogadora.
O trauma de ser cortado ou de não obter vaga em um torneio atormenta qualquer atleta. Para os brasileiros que irão disputar o Pan em casa, a ansiedade se tornou ainda maior.
"Fiquei bem tensa, mas me dediquei ao máximo. Quando fui cortada em 2003, eu pensei que tinha de ficar boa para ir à Olimpíada no ano seguinte. Isso me deu força. O mesmo aconteceu agora", afirma Lucila, que teve o mesmo joelho operado neste ano.
Desde a cirurgia até a convocação, a jogadora também viu sua equipe em Guarulhos fechar as portas e ficou três meses sem receber salários.
"O trauma de um corte pode ser grande se o atleta não estiver preparado psicologicamente", diz Márcia Pilla do Valle.
"O importante é focar no resultado individual. É ele sentir que está preparado, que melhorou seu desempenho e saber que fez o melhor que podia. Se não conseguiu, é porque os outros estavam melhor preparados", completa a psicóloga.
Fabiana Murer foi a última do time de 11 atletas acompanhados pela Folha a respirar aliviada com a vaga no Pan.
Apesar de ter seu lugar praticamente assegurado -tem a melhor marca do país no ano-, precisava se apresentar bem no Troféu Brasil, há cerca de duas semanas, para ratificar o favoritismo no salto com vara.
"Estou ansiosa. Desisti de duas competições na Europa para me concentrar na preparação para o Pan. O público deve ser muito grande. Dá um nervosismo e friozinho na barriga", revela a saltadora.
"Quero melhorar minha forma física. Estou fazendo treinos fortes para recuperar o tempo perdido com a lesão [nas costas]", afirma ela.
Contusão também foi o fantasma que atormentou Paula Pequeno. Um joelho machucado tirou a atacante de vôlei da Olimpíada de Atenas-2004. Em 2005, a gravidez da filha Mel a afastou da seleção.
"Achei que minha carreira iria acabar. Foi tudo muito inesperado. Mas, depois, vi que tinha de me dedicar ainda mais para dar um futuro melhor para minha filha. Criei uma consciência corporal maior e sei dos meus limites agora", diz.


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