São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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DEPOIMENTO

Passagem do tempo trará quadro mais claro sobre 11/9

SÉRGIO DÁVILA
EDITOR-EXECUTIVO

Uma hipótese: se o ataque orquestrado por Osama bin Laden na manhã de 11 de setembro de 2001 não tivesse vingado, Barack Obama não seria presidente dos EUA. Até então, George W. Bush caminhava para ser um "pato-manco", de um mandato só, sem força nem projeto.
O atentado deu a ele carta branca para invadir o Afeganistão, a "guerra justa", e destronar Saddam Hussein no Iraque, a "vendeta de resultados" -entre eles, livrar os iraquianos de um ditador e, com o plano do general David Petraeus, conter a violência e viabilizar o novo país.
A parafernália da "guerra ao terror" lançada por Bush impediu novos ataques em solo norte-americano. Mas, aliada a um Congresso dócil e a uma imprensa em hiato acrítico, deu ao republicano poderes quase imperiais.
Com a caneta na mão, cortou impostos dos ricos, fez vista grossa para os derivativos -as verdadeiras armas de destruição em massa- e torrou pelo menos US$ 3 trilhões a descoberto.
O esquema começou a fazer água em 2008, com a quebra do Lehman Brothers. O caos econômico-financeiro que se seguiu ajudou a eleger o democrata, primeiro negro na Casa Branca.
Com exceção da invasão do Afeganistão, eu acompanhei todos os eventos acima de um posto privilegiado, o de correspondente da Folha nos Estados Unidos por uma década, de 2000 a 2010.
É atribuída ao ex-primeiro-ministro francês Georges Clemenceau (1841-1929) a frase "a guerra é algo sério demais para ser confiado aos militares". Pois a história é assunto complexo demais para ser relatado só por jornalistas.
No calor dos acontecimentos, o repórter tende a se apegar à árvore -muitas vezes ao galho da árvore-, não à floresta. Coleta os detalhes. A junção destes detalhes mais a passagem do tempo podem ou não formar um quadro mais claro.
Dez anos depois, o significado do 11 de Setembro ainda é obscuro. A profusão de opiniões que você lê neste caderno e leu nos últimos dias nos jornais confirma isso. O ataque iniciou e moldou o novo século ou foi um evento fora da curva, dependendo da interpretação do autor.
Eu estava em Manhattan na manhã daquele dia. Vi os prédios desabarem e bombeiros recolherem pedaços de seus colegas. Senti o cheiro de corpos queimados. Descrevi a frustração dos cães salva-vidas, que não encontravam vidas a ser salvas nos escombros. São detalhes.
Milhares de relatos como esses, mais interpretação e análise, eventualmente ajudarão a definir o que o 11 de Setembro significou. Mas ainda é cedo.


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