São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

Próximo Texto | Índice

Coréia do Sul 3 x 1 Brasil

Associated Press
Coreanos sobem escada rolante em metrô de Seul, 'observados' por Roberto Carlos, Figo e Ronaldo


FÁBIO SEIXAS
LÚCIO RIBEIRO

DA REPORTAGEM LOCAL

Através da janela aberta pela Copa do Mundo, os brasileiros vão ter a oportunidade de ver a partir deste mês uma Coréia do Sul muito além da terra dos carros Hyundai, do desastre econômico de 1997 e do hábito de comer carne de cachorro.
Em vez das chocantes cenas de confronto entre trabalhadores e polícia de governo que ganharam manchetes nos noticiários da TV há poucos anos, o Brasil poderá enxergar agora um país já reajustado economicamente, moderno, bonito e pronto para co-sediar um dos mais importantes eventos do planeta.
Pelo menos por pouco mais de um mês, a começar do próximo dia 31 de maio, e ao lado do Japão, a Coréia será o país do futebol.
Aí, essa nação asiática que nunca venceu um jogo em Mundial passa a falar a mesma língua do país que mais ganhou títulos na história do torneio, o Brasil.
De históricos cultural, sociopolítico e esportivo tão diferentes, os dois países guardam uma relação curiosa, além de o Brasil se abrigar na Coréia durante a primeira fase da Copa, de cerca de 50 mil coreanos morarem aqui e quase nada de brasileiros viverem lá no Oriente, exceção feita a alguns diplomatas e jogadores de futebol.
No começo dos anos 50, Brasil e Coréia choravam suas tragédias nacionais, por razões e em proporções bem distintas. O primeiro porque havia sofrido em casa, na Copa de 50, a derrota até hoje mais dolorida no esporte mais caro à nação. O segundo porque viu sua nação destruída na Guerra da Coréia, contra a parte do norte.
Cada um com seus problemas e frustrações, os dois países chegam à década de 60 com níveis de desenvolvimento econômico e uma renda per capita similares, por incrível que pareça.
Em 1961, Park Chung-hee tomou o poder na Coréia do Sul, país que governaria com mão-de-ferro até ser morto (em 1979). Três anos mais tarde, os generais se apossariam do destino político do Brasil.
Tanto lá como cá, os dois regimes militares se depararam com países intrinsecamente distintos, mas com um potencial de crescimento parecido.
Todavia ambos iriam conhecer modelos de desenvolvimento bastante diferentes nas décadas seguintes. Como resultado, a Coréia do Sul, que, na segunda metade do século 20, apostou num modelo industrial exportador, tem hoje um PIB (produto interno bruto) per capita quase o triplo do brasileiro (US$ 9.656 contra US$ 3.401, segundo a revista inglesa "The Economist").
Chung-hee admirava o bem-sucedido modelo de desenvolvimento adotado pelo Japão após a Segunda Guerra e decidiu moldar seu país ao exemplo nipônico.
Abastecida por empréstimos japoneses e por pedidos feitos pelos enormes conglomerados daquele país, a Coréia do Sul montou seus próprios grupos de empresas, que receberam o nome de chaebol (Daewoo, Hyundai, Samsung e muitas outras), na década de 60.
Com o boom econômico japonês, a indústria de semicondutores sul-coreana alavancou o crescimento do país, que se diversificou e possui hoje um parque in­ dustrial de altíssimo nível.
Após a recente crise financeira que abalou, primeiro, os países asiáticos e, depois, a Rússia e o Brasil, o modelo industrial exportador sul-coreano foi colocado em xeque, mas o país já recuperou seu impressionante potencial de desenvolvimento e deve crescer 8,6% neste ano, segundo a revista britânica "The Economist".
O Brasil, por sua vez, depositou sua fé econômica, nos anos 60, num modelo de crescimento que fechava as portas para as importações, distanciando-se do que havia de mais moderno no mundo industrializado.
Se a diferença sociopolítica entre as duas nações hoje é grande, ela é muito mais acentuada em relação ao evento que vai unir Brasil e Coréia neste ano. Enquanto a seleção brasileira já venceu 53 partidas em 16 Copas do Mundo, as maiores glórias coreanas no torneio foram quatro empates em cinco torneios.
Cada um com suas glórias.



Próximo Texto: Política: País é regido por dois tipos de governo
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.