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Dependência de Itaipu é muito grande
MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Cotidiano
O blecaute de anteontem nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste
do país ressaltaram que o sistema
de nacional de energia elétrica tem
uma dependência muito grande da
geração de energia por Itaipu.
No momento do blecaute que
afetou dez Estados, a geração de
energia por Itaipu abrangia cerca
de 30% do sistema interligado de
energia elétrica do país, segundo
Mauro Arce, secretário de Energia
do Estado de São Paulo.
"É um desequilíbrio muito grande. Se tivéssemos um sistema com
uma capacidade maior, não teríamos, com certeza, passado por esse
blecaute", disse Arce.
Mas, segundo o secretário de
Energia de São Paulo, a situação
atual é muito melhor que a de 1997
e 1998, com o funcionamento de
novas usinas na Região Sudeste.
Um dos grandes fatores de limitação do sistema de geração de
energia no Brasil é o fato de ele ser
predominantemente hidráulico,
isto é, baseado em usinas hidrelétricas, segundo Lindolfo Ernesto
Paixão, vice-presidente de assuntos regulatórios da Enron, a controladora da distribuidora Elektron, do gasoduto Bolívia-Brasil e
de outras empresas do setor elétrico.
Para Paixão, que foi vice-presidente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e diretor de
operação da Eletrobrás, o sistema
nacional de geração de energia é
muito dependente de chuvas e
acarreta as grandes distâncias entre os centros de produção e os de
consumo, tornando os sistemas de
transmissão muito complexos.
"Na Região Sudeste será fundamental a implantação de usinas
térmicas, usando como combustível, por exemplo, o gás natural.
Elas teriam menor impacto ambiental e acarretariam menor custo
de transmissão de energia por poderem estar próximas dos centros
de consumo", disse Paixão.
Por causa da complexidade do
sistema nacional de geração e de
transmissão de energia elétrica, alguns especialistas consideraram
que a recuperação após o blecaute
foi rápida.
"Acho que o funcionamento do
sistema foi recuperado depressa.
Poderia ter sido mais demorado",
disse o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha.
Cerqueira Leite, que foi presidente da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) durante o governo de Franco Montoro (1983-1987), disse recear que a qualidade
dos serviços de transmissão de
energia elétrica venha sendo afetada negativamente pelo processo de
privatização das distribuidoras.
Segundo o físico, esse processo
tem levado até as empresas de
transmissão de energia elétrica,
que ainda não estão privatizadas, a
uma redução afoita de seus quadros e a uma terceirização de seus
serviços a baixo custo.
"Serviços muito especializados,
que antes eram prestados por pessoal com muita tradição e experiência foram agora repassados
para empresas recém-formadas",
afirmou o físico. "O governo deveria proibir ou limitar a terceirização de serviços."
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