São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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Dependência de Itaipu é muito grande

MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Cotidiano

O blecaute de anteontem nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país ressaltaram que o sistema de nacional de energia elétrica tem uma dependência muito grande da geração de energia por Itaipu.
No momento do blecaute que afetou dez Estados, a geração de energia por Itaipu abrangia cerca de 30% do sistema interligado de energia elétrica do país, segundo Mauro Arce, secretário de Energia do Estado de São Paulo.
"É um desequilíbrio muito grande. Se tivéssemos um sistema com uma capacidade maior, não teríamos, com certeza, passado por esse blecaute", disse Arce.
Mas, segundo o secretário de Energia de São Paulo, a situação atual é muito melhor que a de 1997 e 1998, com o funcionamento de novas usinas na Região Sudeste.
Um dos grandes fatores de limitação do sistema de geração de energia no Brasil é o fato de ele ser predominantemente hidráulico, isto é, baseado em usinas hidrelétricas, segundo Lindolfo Ernesto Paixão, vice-presidente de assuntos regulatórios da Enron, a controladora da distribuidora Elektron, do gasoduto Bolívia-Brasil e de outras empresas do setor elétrico.
Para Paixão, que foi vice-presidente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e diretor de operação da Eletrobrás, o sistema nacional de geração de energia é muito dependente de chuvas e acarreta as grandes distâncias entre os centros de produção e os de consumo, tornando os sistemas de transmissão muito complexos.
"Na Região Sudeste será fundamental a implantação de usinas térmicas, usando como combustível, por exemplo, o gás natural. Elas teriam menor impacto ambiental e acarretariam menor custo de transmissão de energia por poderem estar próximas dos centros de consumo", disse Paixão.
Por causa da complexidade do sistema nacional de geração e de transmissão de energia elétrica, alguns especialistas consideraram que a recuperação após o blecaute foi rápida.
"Acho que o funcionamento do sistema foi recuperado depressa. Poderia ter sido mais demorado", disse o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha.
Cerqueira Leite, que foi presidente da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) durante o governo de Franco Montoro (1983-1987), disse recear que a qualidade dos serviços de transmissão de energia elétrica venha sendo afetada negativamente pelo processo de privatização das distribuidoras.
Segundo o físico, esse processo tem levado até as empresas de transmissão de energia elétrica, que ainda não estão privatizadas, a uma redução afoita de seus quadros e a uma terceirização de seus serviços a baixo custo.
"Serviços muito especializados, que antes eram prestados por pessoal com muita tradição e experiência foram agora repassados para empresas recém-formadas", afirmou o físico. "O governo deveria proibir ou limitar a terceirização de serviços."


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