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Livro coloca a privatização em xeque
OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro
Quaisquer que tenham sido as
causas do blecaute, sua proporção
sem precedentes pelo menos nesta
década deverá recolocar em discussão o modelo de privatização
do setor elétrico adotado no Brasil.
Críticos da privatização advertem para o risco de que a insuficiência de investimentos na expansão da capacidade instalada
poderá formar gargalos que, no futuro, estrangularão o crescimento
da economia brasileira.
Esse é o enfoque do livro "A Reforma do Setor Elétrico no Brasil e
no Mundo - Uma Visão Crítica",
de Luiz Pinguelli Rosa, Mauricio
Tiomno Tolmasquim e José Claudio Linhares Pires, lançado no final do ano passado pelo Relume-Dumará (R$ 22,00, 211 páginas).
Os autores identificam como um
dos principais problemas o fato de
a privatização estar ocorrendo
com maior velocidade do que a implementação de mecanismos de
regulamentação e fiscalização.
"O governo federal, mesmo
diante de um contexto de aumento
do risco do déficit de energia e da
necessidade de um aporte estimado de US$ 6,5 bilhões de recursos
anuais, está preocupado basicamente em vender os ativos estatais
para abater a dívida pública, mesmo sem aguardar uma indispensável redefinição institucional", dizem os autores.
Para eles, a atitude do governo
traz o risco de racionamento, como já ocorre em sistemas isolados
na região Norte.
O livro argumenta que o eventual
déficit de energia decorreria do fato de as regras de privatização não
definirem obrigações claras de investimento. "No novo modelo
energético que está sendo adotado
não mais existe a responsabilidade
das geradoras federais e estaduais,
a partir da coordenação da Eletrobrás, em complementar a oferta
criada pelas distribuidoras de
energia", afirmam os autores.
"Na nova situação, não existe nenhum agente com papel de equilibrar a relação oferta-demanda do
sistema elétrico, pois qualquer geradora só será responsável pelo
cumprimento de seus contratos."
O livro critica a opção brasileira
de seguir modelos adotados em
países industrializados, como o
Reino Unido, onde o que motivou
a privatização foram problemas de
excesso de capacidade instalada e
eficiência energética.
Para os autores, teria sido mais
interessante a adaptação da reforma na Noruega, país com geração
hídrica semelhante à do Brasil.
A experiência naquele país mostrou que a propriedade dos ativos,
privada ou estatal, não determina a
eficiência do sistema.
Os autores reconhecem, no entanto, avanços do governo. Consideram a criação do ONS (Operador Nacional do Sistema) indício
de que o setor não será deixado só
sob a ação das forças de mercado.
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