São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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BUSCAS

Consulado procura nove brasileiros desaparecidos

Mineira e paulista não voltaram para casa e não estão em hospitais

Autoridades fazem buscas e indicam telefone para identificação

SÍLVIA CORRÊA
GABRIELA ATHIAS

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos nove brasileiros podem estar entre as vítimas do atentado aos prédios do World Trade Center. Três deles são: o administrador de empresas paulistano Ivan Kiryllos Barbosa, 30, a mineira Sandra Fajardo Smith e Anne Marie Ferreira Sallerin.
Os desaparecidos -de quem não havia notícias até as 21h30 de ontem- estão sendo procurados pelo Consulado do Brasil em Nova York, segundo a Folha apurou. O consulado não confirma a informação oficialmente.
Em nota divulgada no começo da noite de ontem, o órgão informou apenas que "ainda não há informações confirmadas sobre vítimas de nacionalidade brasileira", acrescentando que "essa confirmação dar-se-á quando os serviços de emergência da cidade de Nova York começarem o trabalho de identificação das vítimas".
O trabalho, alerta a nota, pode ser demorado. A área ocupada pelas duas torres do World Trade Center na ilha de Manhattan deve ser limpa em dez dias e reconstruída em cerca de dois meses.

Plantão 24 horas
O número de supostos nove desaparecidos é resultado de uma filtragem feita pelo consulado, que montou um plantão 24 horas para atender a demanda por informações (residem em Nova York cerca de 300 mil brasileiros). Desde o momento do atentado, o órgão foi procurado por cerca de 300 pessoas. No Brasil, outras 200 chamadas foram recebidas pelo atendimento do Itamaraty.
Dessas 500 pessoas, pelo menos parentes de nove delas continuaram ligando com preocupações mais consistentes. Os demais conseguiram localizar os supostos desaparecidos ou apenas buscavam detalhes do ataque.
Segundo a descrição dos parentes dessas nove pessoas, elas estavam muito perto ou no próprio World Trade Center no momento do atentado. Desde então, não deram notícias às famílias -nem no Brasil nem nos EUA- e não foram encontradas em telefones onde habitualmente estavam.

Ivan e Sandra
Foi o que aconteceu com Ivan Barbosa e Sandra Smith, cujas famílias, no Brasil, foram localizadas ontem pela Folha.
Segundo a prima de Sandra, Terezinha Fajardo, ela trabalhava no 88º andar da primeira torre a ser atingida pelo Boeing 767 e não voltou para casa. Os primos da desaparecida, Wanda, José Tadeu e Augusto Fajardo, que moram próximo à residência dela, estão procurando por Sandra em hospitais de Manhattan.
"Estamos sem notícias e muito tensos", disse a prima, de Belo Horizonte, pelo telefone.
Já Ivan, que mora em NY com a mulher e uma filha pequena, não voltou para casa desde o atentado, não ligou e não foi achado em nenhum hospital, segundo Rogério, um amigo da família que está atendendo os telefones na casa de parentes de Ivan, em São Paulo.
Abalados, os familiares não querem falar. Além dos hospitais, eles já entraram em contato com o consulado e com amigos do administrador em NY. Deixaram também mensagens na internet.
"[No" último contato, via rádio, [ele" estava tentando sair do 105º andar antes da segunda colisão, acompanhado da brasileira Anne Marie, que também está desaparecida", diz a mensagem em um sites. Ivan trabalhava em uma corretora de valores nesse andar.
A família de Ivan diz que a busca em Nova York está sendo feita pela mulher dele e pelo marido de Anne. A Folha não conseguiu localizar familiares de Anne.
Ontem, depois de tentar contato pelos números e endereços fornecidos pelos familiares, o consulado também começou a realizar buscas nos principais hospitais de Nova York, para onde estão sendo levadas as vítimas. Até ontem à noite, as autoridades americanas tinham apresentado uma lista com 900 nomes de pessoas feridas que estavam hospitalizadas.
O órgão, porém, está trabalhando com pouca gente -mais da metade dos 80 funcionários mora fora de Manhattan e não conseguiu chegar ao escritório ontem.

Serviço telefônico
Além das buscas, o consulado em Nova York e a Embaixada do Brasil em Washington estão encaminhando as famílias para serviços telefônicos montados pela prefeitura da cidade americana e pela polícia para a identificação das vítimas do atentado.
As linhas cadastram o nome da pessoa desaparecida, sua idade e algumas características físicas que possam facilitar o reconhecimento do corpo em caso de morte.
As informações constantes no cadastro serão confrontadas com os corpos que estão sendo retirados dos escombros. A maioria dos mortos está sendo levada, de balsa, para Nova Jersey.
A assessoria de imprensa da embaixada informou que uma família paulista pediu ajuda para conseguir chegar a Nova York para acompanhar as buscas por um sobrinho. A orientação que recebeu foi para pegar um avião até o Canadá e, de lá, alugar um carro para chegar aos Estados Unidos.
Até a noite de ontem, as autoridades daquele país não haviam permitido que as pistas dos aeroportos fossem liberadas para novos vôos. Apenas os que foram interrompidos anteontem é que poderiam completar a viagem com destino às cidades americanas.
Alguns brasileiros que faziam turismo nos EUA estão procurando o consulado brasileiro porque estão retidos na cidade com o fechamento dos aeroportos ou estão sem acomodação, depois de terem de deixar a área do WTC.

Abrigo
Os retidos têm sido encaminhadas às empresas aéreas e, quando necessário, a abrigos temporários. Os abrigos são indicados também a brasileiros que estão sem acomodação na cidade, já que boa parte da rede hoteleira está com sua capacidade cheia.
Cerca de 620 empresas tinham escritório ou sede numa das duas torres gêmeas do complexo. Dessas, pelo menos uma dezena era de propriedade de brasileiros.
Além delas, o Minas Shoe Repair, um serviço de engraxates de um grego que se localizava no subsolo de um dos prédios, tinha 15 funcionários brasileiros.
As empresas que tinham grandes unidades no WTC criaram serviços de atendimento telefônico especiais -que também estão sendo sugeridos a famílias brasileiras pelas autoridades.
Foi o que fez a Morgan Stanley, que tinha escritórios espalhados por 40 andares dos prédios.
A American Express, o ABN Amro Bank e o Bank of America informaram que todos os seus funcionários foram localizados, sem ferimentos graves. O Citibank tem quatro desaparecidos, mas não há brasileiros entre eles.


Colaborou SÉRGIO DÁVILA, de Nova York


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