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BUSCAS
Consulado procura nove brasileiros desaparecidos
Mineira e paulista não voltaram para casa e não estão em hospitais
Autoridades fazem buscas e indicam telefone para identificação
SÍLVIA CORRÊA
GABRIELA ATHIAS
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos nove brasileiros podem estar entre as vítimas do
atentado aos prédios do World
Trade Center. Três deles são: o administrador de empresas paulistano Ivan Kiryllos Barbosa, 30, a
mineira Sandra Fajardo Smith e
Anne Marie Ferreira Sallerin.
Os desaparecidos -de quem
não havia notícias até as 21h30 de
ontem- estão sendo procurados
pelo Consulado do Brasil em Nova York, segundo a Folha apurou.
O consulado não confirma a informação oficialmente.
Em nota divulgada no começo
da noite de ontem, o órgão informou apenas que "ainda não há informações confirmadas sobre vítimas de nacionalidade brasileira", acrescentando que "essa confirmação dar-se-á quando os serviços de emergência da cidade de
Nova York começarem o trabalho
de identificação das vítimas".
O trabalho, alerta a nota, pode
ser demorado. A área ocupada
pelas duas torres do World Trade
Center na ilha de Manhattan deve
ser limpa em dez dias e reconstruída em cerca de dois meses.
Plantão 24 horas
O número de supostos nove desaparecidos é resultado de uma
filtragem feita pelo consulado,
que montou um plantão 24 horas
para atender a demanda por informações (residem em Nova
York cerca de 300 mil brasileiros).
Desde o momento do atentado, o
órgão foi procurado por cerca de
300 pessoas. No Brasil, outras 200
chamadas foram recebidas pelo
atendimento do Itamaraty.
Dessas 500 pessoas, pelo menos
parentes de nove delas continuaram ligando com preocupações
mais consistentes. Os demais conseguiram localizar os supostos
desaparecidos ou apenas buscavam detalhes do ataque.
Segundo a descrição dos parentes dessas nove pessoas, elas estavam muito perto ou no próprio
World Trade Center no momento
do atentado. Desde então, não deram notícias às famílias -nem
no Brasil nem nos EUA- e não
foram encontradas em telefones
onde habitualmente estavam.
Ivan e Sandra
Foi o que aconteceu com Ivan
Barbosa e Sandra Smith, cujas famílias, no Brasil, foram localizadas ontem pela Folha.
Segundo a prima de Sandra, Terezinha Fajardo, ela trabalhava no
88º andar da primeira torre a ser
atingida pelo Boeing 767 e não
voltou para casa. Os primos da
desaparecida, Wanda, José Tadeu
e Augusto Fajardo, que moram
próximo à residência dela, estão
procurando por Sandra em hospitais de Manhattan.
"Estamos sem notícias e muito
tensos", disse a prima, de Belo
Horizonte, pelo telefone.
Já Ivan, que mora em NY com a
mulher e uma filha pequena, não
voltou para casa desde o atentado,
não ligou e não foi achado em nenhum hospital, segundo Rogério,
um amigo da família que está
atendendo os telefones na casa de
parentes de Ivan, em São Paulo.
Abalados, os familiares não
querem falar. Além dos hospitais,
eles já entraram em contato com
o consulado e com amigos do administrador em NY. Deixaram
também mensagens na internet.
"[No" último contato, via rádio,
[ele" estava tentando sair do 105º
andar antes da segunda colisão,
acompanhado da brasileira Anne
Marie, que também está desaparecida", diz a mensagem em um
sites. Ivan trabalhava em uma
corretora de valores nesse andar.
A família de Ivan diz que a busca em Nova York está sendo feita
pela mulher dele e pelo marido de
Anne. A Folha não conseguiu localizar familiares de Anne.
Ontem, depois de tentar contato
pelos números e endereços fornecidos pelos familiares, o consulado também começou a realizar
buscas nos principais hospitais de
Nova York, para onde estão sendo levadas as vítimas. Até ontem à
noite, as autoridades americanas
tinham apresentado uma lista
com 900 nomes de pessoas feridas
que estavam hospitalizadas.
O órgão, porém, está trabalhando com pouca gente -mais da
metade dos 80 funcionários mora
fora de Manhattan e não conseguiu chegar ao escritório ontem.
Serviço telefônico
Além das buscas, o consulado
em Nova York e a Embaixada do
Brasil em Washington estão encaminhando as famílias para serviços telefônicos montados pela
prefeitura da cidade americana e
pela polícia para a identificação
das vítimas do atentado.
As linhas cadastram o nome da
pessoa desaparecida, sua idade e
algumas características físicas que
possam facilitar o reconhecimento do corpo em caso de morte.
As informações constantes no
cadastro serão confrontadas com
os corpos que estão sendo retirados dos escombros. A maioria
dos mortos está sendo levada, de
balsa, para Nova Jersey.
A assessoria de imprensa da
embaixada informou que uma família paulista pediu ajuda para
conseguir chegar a Nova York para acompanhar as buscas por um
sobrinho. A orientação que recebeu foi para pegar um avião até o
Canadá e, de lá, alugar um carro
para chegar aos Estados Unidos.
Até a noite de ontem, as autoridades daquele país não haviam
permitido que as pistas dos aeroportos fossem liberadas para novos vôos. Apenas os que foram interrompidos anteontem é que poderiam completar a viagem com
destino às cidades americanas.
Alguns brasileiros que faziam
turismo nos EUA estão procurando o consulado brasileiro porque
estão retidos na cidade com o fechamento dos aeroportos ou estão sem acomodação, depois de
terem de deixar a área do WTC.
Abrigo
Os retidos têm sido encaminhadas às empresas aéreas e, quando
necessário, a abrigos temporários. Os abrigos são indicados
também a brasileiros que estão
sem acomodação na cidade, já
que boa parte da rede hoteleira está com sua capacidade cheia.
Cerca de 620 empresas tinham
escritório ou sede numa das duas
torres gêmeas do complexo. Dessas, pelo menos uma dezena era
de propriedade de brasileiros.
Além delas, o Minas Shoe Repair, um serviço de engraxates de
um grego que se localizava no
subsolo de um dos prédios, tinha
15 funcionários brasileiros.
As empresas que tinham grandes unidades no WTC criaram
serviços de atendimento telefônico especiais -que também estão
sendo sugeridos a famílias brasileiras pelas autoridades.
Foi o que fez a Morgan Stanley,
que tinha escritórios espalhados
por 40 andares dos prédios.
A American Express, o ABN
Amro Bank e o Bank of America
informaram que todos os seus
funcionários foram localizados,
sem ferimentos graves. O Citibank tem quatro desaparecidos,
mas não há brasileiros entre eles.
Colaborou SÉRGIO DÁVILA, de Nova
York
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