São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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Advogada vive 2 horas de horror e quer voltar

RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A advogada brasileira Cristiana Cavalcante, 26, passou duas horas de horror, presa no prédio onde trabalha em Nova York, o Chase Manhattan Plaza, sede do Chase Manhattan Bank.
Localizado a três quadras do World Trade Center, o edifício foi totalmente fechado na hora do atentado. Ninguém podia sair. A medida pode ter salvo sua vida.
"Todos estavam falando em atentados terroristas em série e em bombas. Como estávamos em Wall Street, achamos que seríamos um provável alvo", conta. A advogada estava no segundo dia em seu novo trabalho.
Os funcionários só puderam deixar o prédio depois que as duas torres gêmeas foram abaixo. "Se tivessem nos liberado antes, após o choque dos aviões, certamente estaríamos por perto na hora do desabamento e o prédio poderia ter caído sobre as nossas cabeças", afirmou.
Cristiana, que é do Rio de Janeiro e mora em Nova York há um ano, decidiu repensar sua permanência nos Estados Unidos. "Estou considerando seriamente a possibilidade de voltar para o Brasil. Não consigo mais me sentir segura. Adoro morar em Nova York, mas estou traumatizada, insegura", disse. "É mais um sentir, não é um pensar", afirmou ela.
A advogada gastou boa parte do tempo depois dos atentados ocorridos anteontem tentando saber notícias de seus amigos brasileiros que moram em Nova York.
Felizmente, diz, todos estavam bem. Ela recebeu também muitas ligações do Brasil.
"Está correndo um boato por aí de que faltam água e mantimentos. Isso não é verdade. Há filas nos supermercados da área sul de Manhattan, mas em "midtown" [região central" está tudo bem", afirmou ela.
Cristiana não foi trabalhar ontem e não pretende ir mais nesta semana. Primeiro, quer que especialistas garantam que mais nenhum prédio corre o risco de desabar na região financeira da ilha. "Só volto para lá depois que estudarem bem a área e disserem que ela está segura."
Um de seus amigos, o também advogado Guilherme Leite, 27, paulistano que mora na parte oeste de Manhattan, passou parte da noite ligando para amigos brasileiros para saber se estavam bem.
O dia ontem, segundo ele, estava tranquilo. "Está parecendo um final de semana." Na TV e nas ruas, não havia outro assunto. "Já se fala em pistas e em suspeitos", disse. Leite chegou a ver, da janela de seu escritório, na Times Square, as duas torres do World Trade Center desabarem.
"Foi terrível. Era como tirar o corcovado do Rio", disse.
Seu prédio acabou sendo evacuado, e ele teve de ir para casa, na 63th Street West, a pé. Levou cerca de meia hora para chegar.
No caminho, viu uma multidão de pessoas fazendo compras nos supermercados e filas em todos os telefones públicos. "Estava todo mundo na rua e havia muitos caças sobrevoando a cidade", disse ele. "Espero que o pior já tenha passado", afirmou.


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