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Advogada vive 2 horas
de horror e quer voltar
RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A advogada brasileira Cristiana
Cavalcante, 26, passou duas horas
de horror, presa no prédio onde
trabalha em Nova York, o Chase
Manhattan Plaza, sede do Chase
Manhattan Bank.
Localizado a três quadras do
World Trade Center, o edifício foi
totalmente fechado na hora do
atentado. Ninguém podia sair. A
medida pode ter salvo sua vida.
"Todos estavam falando em
atentados terroristas em série e
em bombas. Como estávamos em
Wall Street, achamos que seríamos um provável alvo", conta. A
advogada estava no segundo dia
em seu novo trabalho.
Os funcionários só puderam
deixar o prédio depois que as
duas torres gêmeas foram abaixo.
"Se tivessem nos liberado antes,
após o choque dos aviões, certamente estaríamos por perto na
hora do desabamento e o prédio
poderia ter caído sobre as nossas
cabeças", afirmou.
Cristiana, que é do Rio de Janeiro e mora em Nova York há um
ano, decidiu repensar sua permanência nos Estados Unidos. "Estou considerando seriamente a
possibilidade de voltar para o Brasil. Não consigo mais me sentir segura. Adoro morar em Nova
York, mas estou traumatizada, insegura", disse. "É mais um sentir,
não é um pensar", afirmou ela.
A advogada gastou boa parte do
tempo depois dos atentados ocorridos anteontem tentando saber
notícias de seus amigos brasileiros que moram em Nova York.
Felizmente, diz, todos estavam
bem. Ela recebeu também muitas
ligações do Brasil.
"Está correndo um boato por aí
de que faltam água e mantimentos. Isso não é verdade. Há filas
nos supermercados da área sul de
Manhattan, mas em "midtown"
[região central" está tudo bem",
afirmou ela.
Cristiana não foi trabalhar ontem e não pretende ir mais nesta
semana. Primeiro, quer que especialistas garantam que mais nenhum prédio corre o risco de desabar na região financeira da ilha.
"Só volto para lá depois que estudarem bem a área e disserem que
ela está segura."
Um de seus amigos, o também
advogado Guilherme Leite, 27,
paulistano que mora na parte oeste de Manhattan, passou parte da
noite ligando para amigos brasileiros para saber se estavam bem.
O dia ontem, segundo ele, estava tranquilo. "Está parecendo um
final de semana." Na TV e nas
ruas, não havia outro assunto. "Já
se fala em pistas e em suspeitos",
disse. Leite chegou a ver, da janela
de seu escritório, na Times Square, as duas torres do World Trade
Center desabarem.
"Foi terrível. Era como tirar o
corcovado do Rio", disse.
Seu prédio acabou sendo evacuado, e ele teve de ir para casa, na
63th Street West, a pé. Levou cerca
de meia hora para chegar.
No caminho, viu uma multidão
de pessoas fazendo compras nos
supermercados e filas em todos os
telefones públicos. "Estava todo
mundo na rua e havia muitos caças sobrevoando a cidade", disse
ele. "Espero que o pior já tenha
passado", afirmou.
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