São Paulo, Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 1999
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RIO
Centenário, Barbosa Lima foi aconselhado pelo médico a não ir a desfile
Barbosa Lima vê happening gay em sua homenagem na TV

Roseane Marinho/Folha Imagem
Barbosa Lima Sobrinho, é samba enredo da União da Ilha, comemora o carnaval com seus familiares em sua residência


da Sucursal do Rio

O jornalista Barbosa Lima Sobrinho, 102, preferiu assistir de casa, pela TV, ao "happening gay" concebido pelo carnavalesco Milton Cunha para homenageá-lo ontem à noite no desfile da União da Ilha do Governador, a segunda a passar pelo Sambódromo do Rio.
Aconselhado pelo seu médico, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa acompanhou a transmissão dos desfiles de sua casa no bairro de Botafogo.
Estava atento à TV quando a comissão de frente composta por 15 drag queens grávidas evoluiu pelo sambódromo do Rio, abrindo o desfile em sua homenagem. "Estou impressionado e surpreendido com a grandiosidade do desfile", disse à Folha.
Como o jornalista não poderia ir ao Sambódromo, sua família organizou um pequeno Carnaval doméstico, com fantasias e samba. Na avenida, o lugar que seria ocupado por Barbosa Lima Sobrinho foi destinado a seu bisneto mais velho, Pedro Barbosa Lima, 6.
"Nunca pensei em ser homenageado dessa forma", disse Barbosa Lima. "Mas, de certa maneira, tem a ver. Como sou nacionalista, tudo o que vem do povo é importante para mim", afirmou o jornalista.
O carnavalesco Milton Cunha -que anunciou ontem sua despedida dos desfiles- disse que o "happening gay" é um sinal de gratidão aos homossexuais que, segundo ele, frequentam a quadra da escola e ajudaram na reconstrução dos carros alegóricos.
A Ilha só conseguiu concluir a montagem dos carros na avenida uma hora antes do desfile. As alegorias foram destruídas primeiro por um incêndio e, depois, pela chuva da semana passada.
A maioria das fantasias e adereços era feita de papel jornal.
O tributo homossexual da Ilha incluía, além da comissão de frente, um carro alegórico em forma de arco-íris, que simbolizava ao mesmo tempo o advento da cor na imprensa e o "gay power".
Segundo Cunha, pelo menos 1.500 dos 3.800 componentes da escola são homossexuais assumidos. "O doutor Barbosa Lima é um homem que aceita a liberdade."
Para Lima Sobrinho, o "happening gay", os homossexuais e as drag queens no desfile são "uma coisa natural. Se as pessoas acham prazer em outras coisas, não sou eu quem vai impedir."
(ANNA LEE, FERNANDA DA ESCÓSSIA E LUIZ ANTÔNIO RYFF)


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