São Paulo, Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 1999
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Caprichosos exalta construção da beleza

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

No Sambódromo, o inusitado se torna banalidade. Uma camelô vira destaque, uma pacata professora de idiomas se veste só de purpurina, e um transexual personifica Afrodite, a deusa grega da beleza.
A escolha de Roberta Close para representar Afrodite é uma ousadia da Caprichosos de Pilares, que desfila hoje. O enredo homenageia o cirurgião plástico Ivo Pitanguy e fala da construção da beleza e da harmonia do corpo e da mente.
Transexual assumida, Roberta, 35, operou-se há dez anos para mudar de sexo. Não vê problemas em representar a deusa da beleza: "Sou mulher o ano inteiro, o dia inteiro. Por que não sair na avenida de mulher?", pergunta.
Roberta já brilhou no Sambódromo como madrinha de bateria da escola de samba Império Serrano. Diz que beleza tem a ver com sua história. "O carro até mostra bisturis, fala da construção da beleza. Então, sinto-me integrada ao enredo", afirma.
O homenageado Pitanguy, embora não tenha participado da escolha, diz que o Carnaval é uma época de devaneios permitidos e aprova a decisão: "Os gregos não eram preconceituosos quanto a sexo, também não podemos ser. Afrodite representa a beleza, e Roberta Close é linda."
Casada, dois filhos, camelô há seis anos, cicatriz de cesariana escondida pelo biquíni da fantasia, a mulata Dalila viverá hoje seu delírio de Carnaval. Moradora de Bangu (zona oeste), ela vende bichinhos de pelúcia.
Hoje, sairá fantasiada de índia na Imperatriz Leopoldinense, que contará na avenida a história de uma missão artística holandesa em Pernambuco.
Dalila estava num ensaio da Imperatriz e foi descoberta pelos olheiros da escola. Não se acha bonita, só "mais ou menos". Pensou em colocar silicone nos seios, mas desistiu quando soube que precisava passar por cortes.
"Não tenho coragem de operar, então me transformo só para o Carnaval", diz. Na avenida, Dalila sairá com os seios de fora.
O Carnaval também transforma a vida da professora Fátima Cunha, 31, a Fafá, que desfilaria ontem na União da Ilha do Governador. Na homenagem da escola ao jornalista Barbosa Lima Sobrinho, Fátima sambaria em cima de um bebê gigante, representando o sexo do homenageado e vestindo a mesma fantasia de todo ano: purpurina e tapa-sexo.
Num meio termo entre o anonimato da camelô Dalila e a agitação constante na vida de Roberta Close, Fátima vive a típica fama passageira do Carnaval. Durante o ano todo, dá aulas particulares.
No Carnaval, transforma-se na musa do irmão, o carnavalesco da União da Ilha Milton Cunha. "No desfile, sou só personagem."


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