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Insegurança e solidão motivam reação
Atentado faz brasileiro pensar em deixar EUA
DA REVISTA
"Meu sonho foi destruído junto
com aquelas torres." A frase, do
paulistano Alexandre Zanete, 32,
resume a sensação de milhares de
brasileiros que migraram para os
Estados Unidos em busca de uma
oportunidade profissional ou para amealhar um pé-de-meia.
Em Nova York há dois anos e
meio, Zanete diz que, depois do
ataque, seus planos mudaram. A
intenção de trazer a filha de 14
anos para morar com ele foi descartada. "Vim para cá fugindo da
crise econômica e da violência.
Irônico, né?", comenta Zanete,
que trabalha como garçom em
um restaurante no Little Brazil,
onde se concentram imigrantes e
turistas brasileiros.
A agência de viagens Maggie's
Travel, em Nova Jersey, foi procurada por 30 brasileiros em apenas
três dias, todos desesperados para
voltar. Entre os atendidos, um casal de paranaenses, de aproximadamente 25 anos, chegou, na própria terça-feira, com a filha de cinco anos no colo, pedindo passagens urgentes. "O cara dizia: "Prefiro viver pobre no Brasil a arriscar minha vida para enriquecer
nos EUA'", lembra o agente
Eduardo Costa, 29, nos EUA há
quase dois anos.
Além do medo, os que assistiram de perto à tragédia sentiram
uma grande solidão. Era como se
fizessem parte de um cenário de
guerra que não lhes pertencia.
Ainda anestesiados pelas cenas
de destruição, os imigrantes colocam na balança os prós e contras
de viver longe. A primeira vantagem apontada é sempre a econômica. "Depois do ataque, minha
namorada quer voltar de qualquer jeito, mas não posso largar
tudo apressadamente, porque estou juntando dinheiro", explica
Leonardo Resck, 26, que deixou
um filho de dois anos no Rio para
tentar a sorte em Manhattan, depois de ter sido demitido.
Resck estava saindo para trabalhar, quando viu uma das torres
do World Trade Center pegando
fogo. Voltou para pegar uma filmadora e, ao regressar, viu o choque do segundo avião.
Calcula-se que 300 mil brasileiros vivam em NY e arredores, a
maioria de forma ilegal. Em todo
país, seriam cerca de 800 mil.
O brasilianista Stuart Schwartz,
60, professor da Universidade Yale (EUA), acha que o fascínio
exercido pelos EUA nos imigrantes será rapidamente restabelecido. "Alguns podem ir embora
agora, mas o país vai se reerguer e
voltará a atrair como a terra da
prosperidade", diz.
As ameaças e suspeitas de novas
bombas têm feito com que as autoridades evacuem prédios e lugares públicos, reforçando o medo de que os ataques terroristas
sejam frequentes no futuro.
Do outro lado do país, a sensação de insegurança também contagiou os brasileiros. A paulista
Andrea Palma, 29, assistente de
câmera em Hollywood, diz que,
apesar de Los Angeles ser uma cidade grande, com os problemas
típicos de uma metrópole, nunca
havia se sentido tão insegura como na semana passada.
Andrea mora há cinco anos na
badalada praia de Santa Monica.
"Para piorar, teve um terremoto
no domingo passado. Na sequência, aconteceram esses atentados.
Acordei na quarta-feira sem saber
o que fazer da minha vida", diz.
O medo de que a situação piore
é comum entre os brasileiros nos
EUA. A pedagoga Silvana Vasconcelos, 43, há 18 anos em Nova
York, teme o patriotismo. "Dependendo da resposta de Bush, o
melhor é deixar o país", diz Silvana, que ouviu do próprio marido
americano que ela e o filho estariam mais seguros em Ribeirão
Preto (SP), sua terra natal.
Leia entrevista completa no site www.uol.com.br/revista
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