São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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Insegurança e solidão motivam reação

Atentado faz brasileiro pensar em deixar EUA

DA REVISTA

"Meu sonho foi destruído junto com aquelas torres." A frase, do paulistano Alexandre Zanete, 32, resume a sensação de milhares de brasileiros que migraram para os Estados Unidos em busca de uma oportunidade profissional ou para amealhar um pé-de-meia.
Em Nova York há dois anos e meio, Zanete diz que, depois do ataque, seus planos mudaram. A intenção de trazer a filha de 14 anos para morar com ele foi descartada. "Vim para cá fugindo da crise econômica e da violência. Irônico, né?", comenta Zanete, que trabalha como garçom em um restaurante no Little Brazil, onde se concentram imigrantes e turistas brasileiros.
A agência de viagens Maggie's Travel, em Nova Jersey, foi procurada por 30 brasileiros em apenas três dias, todos desesperados para voltar. Entre os atendidos, um casal de paranaenses, de aproximadamente 25 anos, chegou, na própria terça-feira, com a filha de cinco anos no colo, pedindo passagens urgentes. "O cara dizia: "Prefiro viver pobre no Brasil a arriscar minha vida para enriquecer nos EUA'", lembra o agente Eduardo Costa, 29, nos EUA há quase dois anos.
Além do medo, os que assistiram de perto à tragédia sentiram uma grande solidão. Era como se fizessem parte de um cenário de guerra que não lhes pertencia.
Ainda anestesiados pelas cenas de destruição, os imigrantes colocam na balança os prós e contras de viver longe. A primeira vantagem apontada é sempre a econômica. "Depois do ataque, minha namorada quer voltar de qualquer jeito, mas não posso largar tudo apressadamente, porque estou juntando dinheiro", explica Leonardo Resck, 26, que deixou um filho de dois anos no Rio para tentar a sorte em Manhattan, depois de ter sido demitido.
Resck estava saindo para trabalhar, quando viu uma das torres do World Trade Center pegando fogo. Voltou para pegar uma filmadora e, ao regressar, viu o choque do segundo avião.
Calcula-se que 300 mil brasileiros vivam em NY e arredores, a maioria de forma ilegal. Em todo país, seriam cerca de 800 mil.
O brasilianista Stuart Schwartz, 60, professor da Universidade Yale (EUA), acha que o fascínio exercido pelos EUA nos imigrantes será rapidamente restabelecido. "Alguns podem ir embora agora, mas o país vai se reerguer e voltará a atrair como a terra da prosperidade", diz.
As ameaças e suspeitas de novas bombas têm feito com que as autoridades evacuem prédios e lugares públicos, reforçando o medo de que os ataques terroristas sejam frequentes no futuro.
Do outro lado do país, a sensação de insegurança também contagiou os brasileiros. A paulista Andrea Palma, 29, assistente de câmera em Hollywood, diz que, apesar de Los Angeles ser uma cidade grande, com os problemas típicos de uma metrópole, nunca havia se sentido tão insegura como na semana passada.
Andrea mora há cinco anos na badalada praia de Santa Monica. "Para piorar, teve um terremoto no domingo passado. Na sequência, aconteceram esses atentados. Acordei na quarta-feira sem saber o que fazer da minha vida", diz.
O medo de que a situação piore é comum entre os brasileiros nos EUA. A pedagoga Silvana Vasconcelos, 43, há 18 anos em Nova York, teme o patriotismo. "Dependendo da resposta de Bush, o melhor é deixar o país", diz Silvana, que ouviu do próprio marido americano que ela e o filho estariam mais seguros em Ribeirão Preto (SP), sua terra natal.



Leia entrevista completa no site www.uol.com.br/revista



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