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Contestar ficou muito mais difícil
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é conhecida como a
"bruxa da nova era". Feminista, ecologista e mística, a escritora americana "Starhawk", como gosta de ser
chamada, é levada muito a sério
por boa parte dos militantes anticapitalistas.
Seus textos são divulgados para
militantes por e-mail e por sites
na Internet. Starhawk mora em
São Francisco, nos EUA, mas treina ativistas em vários países.
Esteve no Brasil ensinando ação
direta -técnicas cinematográficas de protesto- e orienta ativistas de São Paulo. Starhawk deu a
seguinte entrevista à Folha:
Folha - Como a sra. avalia os atentados e a reação americana?
Starhawk - Os ataques foram
horríveis, completamente indefensáveis, em qualquer nível, seja
político ou moral. Isso é um consenso no movimento antiglobalização. Ninguém apóia uma ação
dessas contra pessoas inocentes.
Mas precisamos entender o
contexto. Os ataques não vieram
do vácuo. Os americanos alimentaram esse tipo de ação mundo
afora, durante anos, apoiando e
financiando atos terroristas contra governos. O próprio Osama
Bin Laden foi treinado e financiado pela CIA para combater os russos no Afeganistão.
Além disso, estamos no limite
das tensões ambientais e sociais.
A desigualdade cria tensões insuportáveis que devem explodir de
forma violenta. A menos que possamos mudar as coisas, os EUA
não vão ficar imunes a isso.
Folha - Como fica o movimento
nesse ambiente de vingança?
Starhawk - Lamento muito que
haja um espírito de raiva e de vingança no ar. Nossa dificílima tarefa, como ativistas, é tentar atuar
contra isso e tentar ser uma voz
em nome da verdadeira justiça.
Os eventos da última semana fizeram nossa vida muito mais difícil. Esse é um enorme desafio,
mas também é uma grande oportunidade. Minha esperança é recuperarmos o momento que o
movimento vivia antes dos atentados. Teremos que fazer algo novo, buscar novas conexões.
Folha - Muitos militantes antiglobalização chamam os EUA de imperialista. Qual é a sua opinião?
Starhawk - Os EUA agem como
um novo império. Muitos de nós
são ativistas porque amamos nosso país. Amamos os ideais com os
quais fomos criados, de que essa é
a terra da liberdade e da justiça
para todos. Não queremos ver os
Estados Unidos transformados
simplesmente num agente de
opressão do mundo, como é hoje.
Queremos trazer nosso país de
volta para os valores que amamos
e, ao fazer isso, abrir espaço para a
democracia no resto do mundo.
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