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RIO
As mais aplaudidas foram aquelas que trocaram o luxo pela originalidade
Comissões de frente fazem sucesso com sapos e sósias
RODRIGO VERGARA
enviado especial ao Rio
As comissões de frente mais
aplaudidas do Carnaval foram justamente aquelas que abriram mão
do luxo, das penas e das lantejoulas
em favor de uma idéia original.
À frente da Mocidade, os atores
da Intrépida Trupe vestiam fantasias de sapos-cururus que não
eram nada mais do que isso: sapos.
O cururu é a espécie mais comum no Brasil e é citado em canções populares incorporadas por
Villa-Lobos, tema do enredo da escola, em suas obras.
As roupas de sapo, de malha e coladas ao corpo, mostravam os bichos como eles são. Verdinhos,
olho saltado e boca aberta. Davam
até saltos, se bem que acrobáticos.
Ganharam muitos aplausos, mas
não tantos quanto o grupo de atores vestidos de velhinhos, muitos
em roupas do dia-a-dia, que abriram o desfile da Mangueira.
Os aplausos, no caso, não eram
tanto para os atores, mas para
quem eles representavam: os sambistas ilustres Cartola, Natal da
Portela, Noel Rosa, Pixinguinha,
Ismael Silva, Candeia, Donga, Sinhô, mestre Fuleiro, Nelson Cavaquinho e ainda Tia Ciata, Clementina de Jesus, Clara Nunes e Carmen Miranda.
Desses todos, só a fantasia de
Carmen Miranda tinha algum brilho. Três vestiam-se de cinza. E
dois envergavam paletós escuros.
Tudo pela caracterização dos
personagens, que incluiu uma piteira original de Donga, os óculos
do verdadeiro Cartola e sessões de
maquiagem que tomaram até duas
horas do maquiador Vavá Torres.
Quem tem poder de julgar aprovou. "Está perfeito. É meu pai escrito", disseram Regina Nogueira e
Ligia Santos, filhas de Cartola e
Donga, respectivamente.
As duas se emocionaram com a
representação e renderam lágrimas e agradecimentos ao dançarino Carlinhos de Jesus, coordenador da comissão de frente mangueirense.
"Levamos seis meses preparando
a comissão. Eles (os homenageados) merecem. Porque isso tudo só
existe por causa deles", afirmou o
dançarino.
Carlinhos, vestido de fraque e
cartola cor-de-rosa, incluiu na coreografia detalhes que passaram
despercebidos, como uma Tia Ciata -sambista antiga do Império
Serrano- um tanto perdida, que
precisava de ajuda para reencontrar seu lugar no grupo.
No final, quem precisou de amparo foi o filho de Carlinhos, Carlos Eduardo Mendes Jesus, 20, que
interpretou o compositor Cartola,
ídolo da escola verde-e-rosa.
O rapaz não parava de chorar,
emocionado. Dona Zica, viúva do
compositor, que já chegou a passar
mal diante de outros sósias de Cartola, não o viu desta vez.
No desfile de domingo, destacou-se a comissão de frente da
União da Ilha.
Dentro do "happening gay" em
que o carnavalesco Milton Cunha
decidiu transformar o enredo da
escola em homenagem ao jornalista Barbosa Lima Sobrinho, a comissão era formada por drag
queens grávidas.
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