São Paulo, Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO
As mais aplaudidas foram aquelas que trocaram o luxo pela originalidade
Comissões de frente fazem sucesso com sapos e sósias

RODRIGO VERGARA
enviado especial ao Rio

As comissões de frente mais aplaudidas do Carnaval foram justamente aquelas que abriram mão do luxo, das penas e das lantejoulas em favor de uma idéia original.
À frente da Mocidade, os atores da Intrépida Trupe vestiam fantasias de sapos-cururus que não eram nada mais do que isso: sapos.
O cururu é a espécie mais comum no Brasil e é citado em canções populares incorporadas por Villa-Lobos, tema do enredo da escola, em suas obras.
As roupas de sapo, de malha e coladas ao corpo, mostravam os bichos como eles são. Verdinhos, olho saltado e boca aberta. Davam até saltos, se bem que acrobáticos.
Ganharam muitos aplausos, mas não tantos quanto o grupo de atores vestidos de velhinhos, muitos em roupas do dia-a-dia, que abriram o desfile da Mangueira.
Os aplausos, no caso, não eram tanto para os atores, mas para quem eles representavam: os sambistas ilustres Cartola, Natal da Portela, Noel Rosa, Pixinguinha, Ismael Silva, Candeia, Donga, Sinhô, mestre Fuleiro, Nelson Cavaquinho e ainda Tia Ciata, Clementina de Jesus, Clara Nunes e Carmen Miranda.
Desses todos, só a fantasia de Carmen Miranda tinha algum brilho. Três vestiam-se de cinza. E dois envergavam paletós escuros.
Tudo pela caracterização dos personagens, que incluiu uma piteira original de Donga, os óculos do verdadeiro Cartola e sessões de maquiagem que tomaram até duas horas do maquiador Vavá Torres.
Quem tem poder de julgar aprovou. "Está perfeito. É meu pai escrito", disseram Regina Nogueira e Ligia Santos, filhas de Cartola e Donga, respectivamente.
As duas se emocionaram com a representação e renderam lágrimas e agradecimentos ao dançarino Carlinhos de Jesus, coordenador da comissão de frente mangueirense.
"Levamos seis meses preparando a comissão. Eles (os homenageados) merecem. Porque isso tudo só existe por causa deles", afirmou o dançarino.
Carlinhos, vestido de fraque e cartola cor-de-rosa, incluiu na coreografia detalhes que passaram despercebidos, como uma Tia Ciata -sambista antiga do Império Serrano- um tanto perdida, que precisava de ajuda para reencontrar seu lugar no grupo.
No final, quem precisou de amparo foi o filho de Carlinhos, Carlos Eduardo Mendes Jesus, 20, que interpretou o compositor Cartola, ídolo da escola verde-e-rosa.
O rapaz não parava de chorar, emocionado. Dona Zica, viúva do compositor, que já chegou a passar mal diante de outros sósias de Cartola, não o viu desta vez.
No desfile de domingo, destacou-se a comissão de frente da União da Ilha.
Dentro do "happening gay" em que o carnavalesco Milton Cunha decidiu transformar o enredo da escola em homenagem ao jornalista Barbosa Lima Sobrinho, a comissão era formada por drag queens grávidas.


Texto Anterior: Público faz ola ao som da bateria
Próximo Texto: Grupo tenta fazer arrastão após desfile
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.