São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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Óleo afeta algas

especial para a Folha

Em 1989, um acidente com o superpetroleiro Exxon Valdez provocou um vazamento de 42 milhões de litros de petróleo nas costas do Alasca (EUA). Acidentes envolvendo petroleiros ganham manchetes, mas são "fichinha" perto de outras fontes poluidoras.
Os grandes derramamentos não passam de 5% do total do óleo que chega todos os anos aos mares. Para ter uma idéia, só no Canadá 300 milhões de litros de óleo de motor chegam anualmente até a costa, ou seja, mais de sete "valdezes" por ano. Pode parecer incrível, mas essa quantidade colossal de óleo vem do vazamento de motores de barcos e de carros que, "lavados" pela chuva, alcançam o mar.
Ainda assim, o impacto de acidentes como o do Exxon Valdez sobre sobre o ecossistema marinho é devastador e, em certa medida, difícil de ser estimado: o petróleo é uma mistura de substâncias químicas com diferentes poderes de fogo sobre os organismos que vivem diretamente ou indiretamente do mar. Por isso mesmo, alguns levam pouco tempo para dar a volta por cima; outros, dezenas ou centenas de anos.
Óleo ou petróleo. Não importa. Toda a vida marinha é afetada, a começar pelo fitoplâncton, o conjunto de algas microscópicas que produzem a maior parte do oxigênio existente no planeta e, por isso, são as principais responsáveis pela vida na Terra.
O óleo e as aves também não se topam. Prova disso é a imagem da luta desesperada de ambientalistas e voluntários munidos de escova e baldes d'água à cata de aves que, sem querer, tomaram um banho de óleo-uma imagem que virou símbolo desses grandes desastres ecológicos. O vazamento do Valdez deixou 30 mil delas mortas.

Mercúrio

Os grandes acidentes ecológicos envolvendo metais pesados costumam ter sempre o mesmo personagem principal: o mercúrio. Talvez por que seus efeitos cheguem até o homem.
O mercúrio, assim como outros metais pesados, se acumula na cadeia alimentar, quer dizer, a sua concentração tende a aumentar de acordo com o nível trófico em que se encontra o bicho marinho.
O motivo é simples: quanto mais afastados dos "produtores de energia" (as algas marinhas), mais comida os bichos têm de comer para "manter" o mesmo nível "energético". E se a comida está contaminada, eles acumulam maior quantidade de toxinas.
No início da década de 50, pelo menos 79 pessoas morreram envenenadas por ingestão de compostos de mercúrio em Minamata, na baía de mesmo nome, na ilha de Kyushu, no Japão. Outros 600 moradores da região foram atingidos pela "doença de Minamata".
Em 1956, descobriu-se que a indústria química Nippon Chisso Hiryo jogara resíduos de mercúrio nas águas da baía, contaminando peixes e moluscos consumidos pela população. Depois de quatro décadas, em fevereiro de 1992, o Tribunal de Tóquio ordenou que a indústria química indenizasse 42 vítimas de Minamata.
No Brasil, os garimpos são conhecidos por poluir os rios com mercúrio. A região Norte é a mais afetada por essa poluição.
Além do mercúrio, outras substâncias tóxicas podem estar escondidas nas tintas ou mesmo no óleo usado para pintar cascos de barcos e piers. O creosoto, por exemplo, é ideal para esses casos: os animais marinhos não o toleram.
Além disso, o creosoto contém um grupo de substâncias chamados PAH (da sigla em inglês hidrocarbonetos aromáticos policíclicos), altamente cancerígenos, mesmo para os peixes.



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