São Paulo, Quinta-feira, 18 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Técnica ainda é cara e distante

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

O cinema brasileiro dos anos 90 estaria mais próximo das virtudes técnicas de um "Titanic" do que da improvisação do próprio cinema nacional do final dos anos 80? Em termos.
Após a retomada nos anos 90, os diretores realmente tiveram acesso facilitado a alguns equipamentos de ponta utilizados nas grandes indústrias de cinema do mundo, como a "steadycam" (câmera acoplada em colete com sistema que permite filmagens sem trepidações) e as ilhas de edição digitais.
A Internet permitiu que os técnicos brasileiros tivessem contato mais rápido com as novas tecnologias e facilitou o intercâmbio de informações. O som melhorou com captadores digitais.
Mas nenhuma produção brasileira chegou perto da suntuosidade técnica de grande parte dos filmes rodados em Hollywood, em que os efeitos especiais estão a serviço do roteiro.
Muitos equipamentos disponíveis nos EUA, além de baratos, têm sua demanda garantida com os altos orçamentos dos filmes. No Brasil, claro, a quantidade de dinheiro movimentado é bem inferior.
A mais cara produção brasileira já feita, "Guerra de Canudos", de Sérgio Rezende, custou R$ 6 milhões, em 1997, enquanto uma comediazinha como "Jerry Maguire", feita no mesmo ano, custou US$ 50 milhões em Hollywood. E a locação de equipamentos no exterior é mais barata. Uma câmera da Panavision, por exemplo, que tem uma diária de R$ 1.625 no Brasil, pode ser encontrada por US$ 450/ dia nos EUA.
Na opinião da cineasta Tata Amaral, a falta de dinheiro chega a ser a grande barreira. A diretora de "Um Céu de Estrelas" diz que o maior problema técnico do cinema nacional é o tratamento dado à película nos laboratórios brasileiros. Ela mesma diz ter sido vítima da imperícia de um deles.
"Os poucos laboratórios que revelam e montam os negativos no país criaram um cartel cuja prioridade é fazer cópias de filmes estrangeiros para o circuitão. Não é à toa que parte dos negativos do meu "Através da Janela" foram danificados por um laboratório", diz.
Tata afirma que o bom padrão dos filmes recentes se deve às revelações de negativos no exterior. Mesmo assim, segundo ela, as produções nacionais ainda não têm cacife para usar algumas das técnicas mais modernas, como a intervenção digital no negativo. Esse seria um exemplo do que falta para o Brasil chegar a Hollywood.
Mas a cineasta não acha que essa seja uma estrada de mão única. "Nosso cinema não depende da tecnologia de ponta. Nossa proposta não é o superespetáculo."


Texto Anterior: Mal feito: Indústria se organiza mal, mas consegue se desorganizar bem
Próximo Texto: Mal falado: Público adota o "não vi; não gostei"
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.