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Técnica ainda é cara e distante
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
O cinema brasileiro dos anos 90
estaria mais próximo das virtudes
técnicas de um "Titanic" do que da
improvisação do próprio cinema
nacional do final dos anos 80? Em
termos.
Após a retomada nos anos 90, os
diretores realmente tiveram acesso
facilitado a alguns equipamentos
de ponta utilizados nas grandes indústrias de cinema do mundo, como a "steadycam" (câmera acoplada em colete com sistema que permite filmagens sem trepidações) e
as ilhas de edição digitais.
A Internet permitiu que os técnicos brasileiros tivessem contato
mais rápido com as novas tecnologias e facilitou o intercâmbio de informações. O som melhorou com
captadores digitais.
Mas nenhuma produção brasileira chegou perto da suntuosidade técnica de grande parte dos filmes rodados em Hollywood, em
que os efeitos especiais estão a serviço do roteiro.
Muitos equipamentos disponíveis nos EUA, além de baratos, têm
sua demanda garantida com os altos orçamentos dos filmes. No Brasil, claro, a quantidade de dinheiro
movimentado é bem inferior.
A mais cara produção brasileira
já feita, "Guerra de Canudos", de
Sérgio Rezende, custou R$ 6 milhões, em 1997, enquanto uma comediazinha como "Jerry Maguire", feita no mesmo ano, custou
US$ 50 milhões em Hollywood. E a
locação de equipamentos no exterior é mais barata. Uma câmera da
Panavision, por exemplo, que tem
uma diária de R$ 1.625 no Brasil,
pode ser encontrada por US$ 450/
dia nos EUA.
Na opinião da cineasta Tata
Amaral, a falta de dinheiro chega a
ser a grande barreira. A diretora de
"Um Céu de Estrelas" diz que o
maior problema técnico do cinema nacional é o tratamento dado à
película nos laboratórios brasileiros. Ela mesma diz ter sido vítima
da imperícia de um deles.
"Os poucos laboratórios que revelam e montam os negativos no
país criaram um cartel cuja prioridade é fazer cópias de filmes estrangeiros para o circuitão. Não é à
toa que parte dos negativos do
meu "Através da Janela" foram danificados por um laboratório", diz.
Tata afirma que o bom padrão
dos filmes recentes se deve às revelações de negativos no exterior.
Mesmo assim, segundo ela, as produções nacionais ainda não têm
cacife para usar algumas das técnicas mais modernas, como a intervenção digital no negativo. Esse seria um exemplo do que falta para o
Brasil chegar a Hollywood.
Mas a cineasta não acha que essa
seja uma estrada de mão única.
"Nosso cinema não depende da
tecnologia de ponta. Nossa proposta não é o superespetáculo."
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