São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Baixada do Glicério foi o marco zero

NA CAPITAL Preço baixo do aluguel de porões atraiu os primeiros imigrantes; agricultura, guerra e imóveis baratos nortearam expansão para Itaquera e zona sul

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma ladeira estreita, com casarões de segunda classe, que desembocava num mangue: esse foi o inóspito marco zero da cidade de São Paulo para os imigrantes japoneses.
Na Baixada do Glicério, divisa entre o centro e a Liberdade, a rua Conde de Sarzedas recebeu os primeiros estrangeiros que fugiam das lavouras de café, desiludidos com o pouco dinheiro. Era 1912.
"Essa concentração se deveu a dois fatores: ainda hoje há na rua Conde de Sarzedas e adjacências casas enormes, com porões no subsolo. O aluguel era muito barato, atraindo os imigrantes. Além disso, eles estavam ao lado do centro e de suas oportunidades de trabalho. Não precisavam gastar dinheiro com condução", explica a historiadora Célia Oi, coordenadora da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa.
Depois, os imigrantes passaram a ocupar também ruas vizinhas à Conde, como a Estudantes e a Conselheiro Furtado.
Essa primeira concentração durou até a Segunda Guerra. Em 1942, o governo brasileiro decretou que os estrangeiros deveriam sair do centro da cidade. Grandes núcleos se deslocaram para a zona sul -Saúde, Jabaquara, Vila Mariana.
"O fator decisivo foi a possibilidade que os imigrantes viam de comprar um terreno. Nessas regiões, desabitadas, os preços dos imóveis eram baixos. Além disso, Saúde e Jabaquara tinham chácaras, e quem vinha do interior plantava verdura para vender. A Vila Mariana era uma alternativa ao centro, por ser bem próxima", explica a historiadora.
Com o fim da Segunda Guerra, os imigrantes voltaram à Liberdade. Nascia o "bairro japonês", que ganhou também restaurantes, bares, karaokês e uma estação de metrô.
Na década de 70, chineses e coreanos começaram a chegar e a modificar a paisagem. "A Liberdade hoje é cada vez menos japonesa e mais oriental. Os imigrantes se espalharam, e agora há várias concentrações de descendentes espalhadas por São Paulo, em Pinheiros, na Saúde, na Vila Mariana, no Jabaquara", diz Célia.

Plantio
A expansão nipônica em São Paulo também foi marcada por oportunidades agrícolas. Com o loteamento de terra em Itaquera, na zona leste, centenas de famílias japonesas chegaram a viver ali.
Pinheiros, na zona oeste, um bairro valorizado, mantém até hoje forte presença nipônica.
A semente ali foi a batata, ou melhor, a fundação, em 1927, da famosa Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), já extinta, no Largo da Batata. "Esse foi um fator determinante. O local virou um pólo de grandes produtores de batata, daí o nome do largo", diz o pesquisador e ex-presidente do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil Iossuke Tanaka. (DÉBORA YURI)


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