São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Confisco e briga interna marcaram o período da 2ª guerra

DA REPORTAGEM LOCAL

A Segunda Guerra (1939-1945) trouxe severas restrições aos imigrantes japoneses por parte do governo brasileiro. E, finda a guerra, ocorreu um confronto dentro da própria comunidade, com 23 mortes relatadas.
As restrições impostas aos imigrantes começaram antes mesmo do início do conflito (em que o Japão ficou do lado do Eixo, com a Alemanha, e o Brasil, com os Aliados, liderados por Inglaterra, URSS, França e EUA).
Em 1938, o presidente Getulio Vargas proibiu o funcionamento de escolas estrangeiras no país (as principais atingidas foram as japonesas, alemãs e italianas).
Iniciada a guerra, as restrições ficaram mais pesadas para os japoneses: foi proibida a impressão de jornais em sua língua, não era permitido falar japonês em locais públicos, os deslocamentos entre cidades foram restringidos e os bens, congelados (não era possível movimentar o dinheiro das contas bancárias e grandes propriedades passaram a ser administradas por interventores).
A população que vivia no litoral, principalmente em Santos, teve de deixar suas casas em poucas horas e seguir para o interior -havia o temor de que japoneses e alemães colaborassem com submarinos do Eixo.
Jornais da época relatam que 10 mil famílias, japonesas e alemãs, tiveram de deixar suas casas no litoral.
Já os que viviam em pequenas propriedades no interior praticamente não sofreram restrições econômicas -apenas as sociais.

Shindo Renmei
Terminada a guerra, as restrições foram suspensas, mas começava um outro conflito. Parte dos imigrantes não acreditou que o Japão tinha perdido a guerra e criou uma seita, a Shindo Renmei (liga do caminho dos súditos), para perseguir os que aceitavam a derrota.
"Boa parte disso ocorreu pela proibição das publicações em japonês. A maioria não sabia português, não tinha acesso a informações e ficou à mercê dessa manipulação", diz o professor Masato Ninomiya, da USP.
"Os japoneses acreditavam que o imperador era divino. Então, como ele perderia a guerra?", diz Ninomiya.
No livro "Corações Sujos" (Companhia das Letras), o escritor Fernando Morais relata que os integrantes da seita manipulavam imagens e notícias, para fazer com que os imigrantes acreditassem que o Japão havia vencido a guerra.
As perseguições se espalharam por todo o Estado. Foram registradas 23 mortes. A seita só perdeu força em 1947, quando o governo de São Paulo intensificou as prisões (foram mais de 30 mil seguidores), mandando parte para a prisão da Ilha de Anchieta. (FT)


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