São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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CENÁRIO

Afeganistão envia tropas para a fronteira

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

O Afeganistão enviou um arsenal de armas, incluindo mísseis Scud (com um alcance de 300 km, o suficiente para atingir Islamabad), e até 25 mil homens armados à fronteira com o Paquistão, segundo um militar do país.
"Tememos que eles nos ataquem. Já estamos preparados, estamos preparados para defender a pátria", afirmou o capitão paquistanês Abid Bahtti, falando num posto de controle do Exército a 2,5 km da fronteira com o Afeganistão.
Questionado se a situação se assemelhava a uma crise bélica, Bahtti disse: "Definitivamente, mas não é uma guerra declarada". Afegãos que cruzaram a fronteira disseram ter visto combatentes ligados ao grupo extremista islâmico Taleban, que controla quase todo o país, cavando trincheiras perto da fronteira.
Rashid Qureshi, porta-voz do governo militar paquistanês, disse que o país não havia planejado nenhuma grande ação com seus soldados, que chegam a 500 mil, porque não pôde confirmar a movimentação dos afegãos.
O Paquistão fechou sua fronteira de cerca de 1.400 km com o Afeganistão, permitindo a passagem apenas de pessoas com documentos requisitados pelo país.
Segundo Bahtti, Islamabad já havia reforçado a fronteira com tropas devido aos crescentes sinais de que os EUA pretendem atacar o Afeganistão devido ao refúgio que oferece a Osama bin Laden, principal suspeito dos ataques à Costa Leste dos EUA.
O líder do Taleban, o mulá Mohamad Omar, alertou os países vizinhos sobre o "extraordinário perigo" ao qual estarão sujeitos se cooperarem com os EUA.
Apesar disso, o presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, ofereceu apoio aos EUA. O governo de George W. Bush recebeu permissão para sobrevoar o território paquistanês. Poderia também deslocar uma força multinacional dentro de suas fronteiras, disseram fontes militares e diplomáticas paquistanesas no sábado. O Paquistão aceitou ainda fechar sua fronteira com o Afeganistão e cooperar com informações estratégicas. Aumentam os protestos nas ruas paquistanesas contra a ajuda aos EUA.
O Afeganistão está a cerca de 1.600 km do oceano mais próximo, rodeado por países hostis aos EUA, como o Irã, ou por Estados que não estão acostumados a cooperar com militares norte-americanos, como o Paquistão e a Rússia. Vários países na região dispõem de armas nucleares.
"O Paquistão não tem opção. Ele tem de manter sua posição atual [de apoio aos EUA", pois ficar ao lado dos afegãos lhe traria muitos riscos. A impressão geral é que Musharraf pode controlar a situação, mas o que não se sabe ao certo é quão islamizados são os militares e se o Exército vai se manter unido", disse Steven Simon, especialista em terrorismo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
A Índia também ofereceu assistência aos EUA, incluindo o uso de suas bases aéreas, para uma provável ação militar dos EUA. Diplomatas dizem ser improvável que Washington precise das bases indianas, mas o gesto do premiê Atal Behari Vajpayee pode render ganhos políticos no futuro.
O Taleban anunciou o fechamento do espaço aéreo do Afeganistão a todos vôos internacionais. "Por razões de segurança, ante um possível ataque norte-americano, o espaço [aéreo" fica fechado a todos os vôo", declarou o ministro da Aviação Civil, Akhtar Mohamad Mansur.
Omar declarou que líderes religiosos de diferentes regiões do país adotarão hoje uma decisão sobre a crise provocada pela presença de Bin Laden no Afeganistão. "Amanhã [hoje", uma reunião de ulemás de cada província acontecerá em Cabul e tomará uma decisão sobre os recentes episódios", declarou o mulá Mohamad a rádio Shariat, controlada pelo Taleban.
Até ontem, apesar das sanções ao Afeganistão, o Taleban se negava a entregar Bin Laden.
Grupos rebeldes, incluindo o de Omar, disputaram o controle de Cabul até o avanço do Taleban, em 1996. As forças oposicionistas foram sendo empurradas para o nordeste. Atualmente, a aliança oposicionista conta com entre 15 mil e 20 mil homens e controla cerca de 5% do território afegão.


Com agências internacionais





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