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Vitória americana seria improvável
Relevo torna improvável vitória de americanos no território afegão
JOSÉ ARBEX JR.
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O Afeganistão é um país inexpugnável.
Claro, é até possível a um
Exército poderoso ocupar o
país durante um certo tempo,
como fez a União Soviética, durante dez anos (1979-1989).
Mas pagou o preço: a desastrosa campanha do Exército
Vermelho, que teve como consequência pelo menos 50 mil
soldados mortos, mais de 1 milhão de afegãos e um número
incontável de feridos, foi um
dos componentes do caos que
precipitou a perestroika.
Contribuiu, também, para o
desmantelamento do orgulhoso império soviético. Os Estados Unidos não teriam tratamento diferente.
O relevo montanhoso e árido
do país abriga aqueles que o conhecem e castiga o estrangeiro.
Localizado em uma região estratégica da Ásia Central, o Afeganistão já foi invadido por Alexandre, o Grande, pelos muçulmanos e mongóis, pela Rússia
czarista e pelo Reino Unido.
Mas o seu povo (de forma semelhante, aliás, ao povo vietnamita) orgulha-se de jamais ter
aceito passivamente o domínio
do invasor, ao longo de uma
história que já conheceu muitas
outras glórias.
Senti o espírito de luta do povo afegão ao cobrir, por esta Folha, o início da retirada soviética do país, em outubro de 1988.
Integrei o grupo de pouco mais
de 20 correspondentes que pôde registrar aquele momento
histórico.
Uma das cenas inesquecíveis,
publicada pelo jornal, aconteceu durante uma cerimônia em
que jovens estudantes jogavam
flores sobre os tanques soviéticos em retirada, perto da fronteira com o Irã.
Notei que uma jovenzinha, de
olhos muito brilhantes, queria
falar comigo.
Como o intérprete oficial (na
verdade, um agente do governo) estivesse sempre ao meu lado, ela me entregou, discretamente, um bilhete escrito em
seu idioma, dari, que li horas
depois, com a ajuda de um funcionário do hotel.
A jovenzinha dizia que sua
vontade não era atirar flores, e
sim bombas, e que nenhum
ocupante estrangeiro jamais teria sequer um dia de paz.
Soube, também, que em certas ocasiões, quando os guerrilheiros estavam cercados por
tropas soviéticas nas montanhas, eles ferviam terra extraída
de camadas profundas do solo e
comiam algumas substâncias
que subiam para a superfície do
"bolo". Conseguiam, dessa maneira, suportar o cerco por mais
tempo.
E conheci guerrilheiros de 15
anos, que juravam lutar até o
fim, morrer se fosse preciso, para libertar o seu país. Não tive a
menor dúvida disso.
Um dia, uma jornalista norte-americana que fazia parte de
nosso grupo foi seqüestrada
por guerrilheiros pró-soviéticos, que se sentiram ofendidos
por seus trajes (usava jeans
muito justos e mascava chicletes o tempo todo).
Foram necessárias várias horas de negociações, muitos pedidos de desculpas e salamaleques até que ela fosse finalmente libertada.
O relevo do país, o espírito de
resistência do povo e a história
mostram que os Estados Unidos não teriam qualquer chance
de vencer uma guerra convencional prolongada com o Afeganistão, mesmo contando
com o apoio político e logístico
de uma coalizão multinacional.
Ainda mais por não existirem
alvos que, uma vez atingidos,
impliquem um golpe definitivo
nas forças do Taleban: o país já
está totalmente arrasado.
Capturar Osama bin Laden,
se é que ele está no Afeganistão,
exigiria movimentação de tropas em terra, e isso significaria
soldados americanos mortos.
Atenuada a sede de vingança,
George W. Bush estaria disposto a suportar as conseqüências
de tal aventura?
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