São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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País deve evitar "maniqueísmo dos EUA", afirma coordenador da ESG

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil precisa preservar uma política externa independente diante do "maniqueísmo do governo dos Estados Unidos". A opinião é do primeiro civil a coordenar o Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra, Darc Costa, 53.
Par ele, uma das consequências das ações terroristas contra os EUA, que hoje completam uma semana, é ""não existir mais, como existia até os atentados, a possibilidade da neutralidade."
"A potência hegemônica, os EUA, não aceita mais a idéia da neutralidade. Ou se está com eles ou se está contra eles", afirma Darc Costa, doutor em engenharia de produção.
O Centro de Estudos Estratégicos dedica-se a analisar a inserção mundial do Brasil. Para o seu coordenador, as relações internacionais mudaram completamente após os atentados, cuja importância é "tão grande quanto a da queda do Muro de Berlim".
Mesmo condenando os ataques terroristas, ""o Brasil deve se preservar", afirma Darc Costa. ""Seu apoio deve ser feito de acordo com as regras da Justiça internacional, não extravasando essas regras. O Brasil é um país pacifista e não-intervencionista."
""Isso é da política externa do Brasil. A pergunta é: será que o Brasil mudará sua tradição diplomática? Já foi cobrado pelos Estados Unidos. A postura dos EUA é clara com respeito a isso."
O coordenador do centro da ESG aponta omissão da ONU. ""Onde estão as Nações Unidas? Não eram o fórum de discussão geral de todos os processos que aconteciam no mundo? Deixaram de ser, não?"
A ESG ainda não promoveu discussões formais sobre os ataques terroristas em Nova York e Washington, embora o tema venha sendo debatido num seminário sobre soberania.
Como exemplo da reviravolta das relações mundiais, Darc Costa citou a convocação, para amanhã, dos 22 países-membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) para decidir medidas de fortalecimento da sua segurança e o apoio aos EUA.
O Brasil sugeriu que a reunião seja pautada pelo Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, o Pacto do Rio, que prevê suporte comum ao país cuja integridade estiver ameaçada.
""Há pouco mais de uma semana, o presidente do México, Vicente Fox, disse que o tratado não fazia mais sentido. Agora, há uma mudança geral, fruto dos eventos da semana passada."

Tolerância
Uma das principais preocupações de Costa após os ataques é com uma certa importação de problemas estrangeiros: ""O Brasil se caracteriza por ser um espaço da tolerância. Tem tolerância étnica, religiosa e racial. Não tem questões dessa natureza. Não é um país da intolerância".
""[O historiador" Sérgio Buarque de Hollanda chamava o Brasil de país da cordialidade, do homem cordial", afirma Costa. ""Na verdade, o brasileiro não é cordial, é tolerante. O terror é fruto da intolerância. Qualquer ação terrorista decorre de uma relação assimétrica de poder associada à intolerância."



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