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País deve evitar "maniqueísmo dos EUA", afirma coordenador da ESG
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil precisa preservar uma
política externa independente
diante do "maniqueísmo do governo dos Estados Unidos". A
opinião é do primeiro civil a coordenar o Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de
Guerra, Darc Costa, 53.
Par ele, uma das consequências
das ações terroristas contra os
EUA, que hoje completam uma
semana, é ""não existir mais, como
existia até os atentados, a possibilidade da neutralidade."
"A potência hegemônica, os
EUA, não aceita mais a idéia da
neutralidade. Ou se está com eles
ou se está contra eles", afirma
Darc Costa, doutor em engenharia de produção.
O Centro de Estudos Estratégicos dedica-se a analisar a inserção
mundial do Brasil. Para o seu
coordenador, as relações internacionais mudaram completamente
após os atentados, cuja importância é "tão grande quanto a da queda do Muro de Berlim".
Mesmo condenando os ataques
terroristas, ""o Brasil deve se preservar", afirma Darc Costa. ""Seu
apoio deve ser feito de acordo
com as regras da Justiça internacional, não extravasando essas regras. O Brasil é um país pacifista e
não-intervencionista."
""Isso é da política externa do
Brasil. A pergunta é: será que o
Brasil mudará sua tradição diplomática? Já foi cobrado pelos Estados Unidos. A postura dos EUA é
clara com respeito a isso."
O coordenador do centro da
ESG aponta omissão da ONU.
""Onde estão as Nações Unidas?
Não eram o fórum de discussão
geral de todos os processos que
aconteciam no mundo? Deixaram de ser, não?"
A ESG ainda não promoveu discussões formais sobre os ataques
terroristas em Nova York e Washington, embora o tema venha
sendo debatido num seminário
sobre soberania.
Como exemplo da reviravolta
das relações mundiais, Darc Costa citou a convocação, para amanhã, dos 22 países-membros da
OEA (Organização dos Estados
Americanos) para decidir medidas de fortalecimento da sua segurança e o apoio aos EUA.
O Brasil sugeriu que a reunião
seja pautada pelo Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, o Pacto do Rio, que prevê suporte comum ao país cuja integridade estiver ameaçada.
""Há pouco mais de uma semana, o presidente do México, Vicente Fox, disse que o tratado não
fazia mais sentido. Agora, há uma
mudança geral, fruto dos eventos
da semana passada."
Tolerância
Uma das principais preocupações de Costa após os ataques é
com uma certa importação de
problemas estrangeiros: ""O Brasil
se caracteriza por ser um espaço
da tolerância. Tem tolerância étnica, religiosa e racial. Não tem
questões dessa natureza. Não é
um país da intolerância".
""[O historiador" Sérgio Buarque de Hollanda chamava o Brasil
de país da cordialidade, do homem cordial", afirma Costa. ""Na
verdade, o brasileiro não é cordial, é tolerante. O terror é fruto
da intolerância. Qualquer ação
terrorista decorre de uma relação
assimétrica de poder associada à
intolerância."
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